ITINERÁRIO A ASSIS – Final












Encerro com este texto a série de comentários que fiz sobre o ITINERÁRIO A ASSIS. Afirmo de coração que voltei feliz e realizado. Concretizamos um sonho e um propósito claro: Ser Peregrinos! Posso dizer convictamente que voltamos não de uma viagem comum, mas realmente de um Caminho Espiritual. Toda viagem comporta sacrifícios e renúncias, a peregrinação é um exercício de  heroísmo interior. Fomos e fizemos! É um rever os sentidos do nosso mundo sob a luz do sagrado. Caminhar e sonhar que podemos ser melhores. Subir ruas e colinas que nos dobram os joelhos. Enxugar o suor na avermelhada face e contemplar do alto os vales, ouvir os sinos, sentir o ardo outono europeu, os aromas vertentes do lugar, a incrível presença gritante das pedras, contemplar o Belo e o Bom e sofrer os medos e displicências que temos em atirar-se fortemente na experiência.

Fazer uma verdadeira peregrinação é como abraçar os leprosos de Francisco; ser levado por uma estranha força, que nos faz ou pegar ou largar. Não é lutar com o contrário que vem de fora, mas vencer os nossos limites de dentro. Sei que este grupo preparou-se longamente para ter estes instantes de fervor. Acompanhei de longe devido aos meus muitos compromissos, a preparação do grupo, porém mergulhei junto na peregrinação, largando todos os meus apegos e agendamento.

O que relatei aqui são meus olhos nos olhos do grupo; meu coração na experiência de cada um e de cada uma que se fez caminho; é a fala que todos gostariam de dizer, mas que mudos diante da beleza, nem sempre conseguiam exprimir. Por isso, nas noites, enquanto todos dormiam o justo sono dos viandantes, eu escrevia o mundo de vivências que pululavam no consciente e no inconsciente de todos. A noite sempre é uma síntese. O amanhecer é sempre as palavras vestidas de gente.
























Não posso citar nomes para não correr o risco de alguém ficar de fora. Mas sei que cada um se lê no que aqui relato. Amei estar com este grupo. Ele tinha o ritmo dos mesmos passos e os anseios da mesma busca. Alguns mais outros menos de vida franciscana, mas todos sabiam que um dia chegariam onde estavam, pois a Assis já tinha sido uma escolha da alma. O grupo foi obediente, alegre, responsável, amigo, decidido, incansável. Muitos faziam a primeira viagem de sua vida para o exterior, para celebrar ali na Itália e Portugal um longo itinerário já feito em seu interior. Fácil é conduzir espiritualmente um grupo que fala a mesma linguagem do espírito, canta a mesma melodia insuflada por uma escolha e reza a mesma Regra de Vida.

As celebrações: missas, paraliturgias, orações da manhã e da noite, preces à mesa, cantos, terços, a hora do Ângelus, as folhas entregues com textos das Fontes Franciscanas e Clarianas, o caderninhos de cantos, tudo feito com muita unção.  A Equipe de Coordenação, que ia na frente e se fazia sempre presente para  marcar o lugar da hospedagem , distribuir os quartos, pagar os bilhetes de ônibus, dar os avisos , cuidar de tudo, foi de uma dedicação sem par. O modo como o grupo de organizou fraternalmente: mães  cuidando de seus filhos, fez o caminho ser tranqüilo.  Os casais da OFS ali unidos pelo matrimônio e pela Espiritualidade Franciscana Secular, deram um belo testemunho de união, mãos dadas, preces, partilhas e testemunhos. Os homens e mulheres do grupo deixaram fluir os valores cristãos e franciscanos. Rimos juntos, choramos juntos, fundimos emoções e sentimentos. Como foi belo ver a seriedade com que as pessoas aceitavam a convocação do Guia Espiritual e iam para as grutas, florestas, capelas e espaços para a prece e meditação pessoal. Foram 23 dias de retiro! E todos colaboraram para que isto acontecesse! Há que se destacar a humilde e preciosa presença de Frei Serginho, OFMCap. A simpática e piedosa Irmã Yolanda. Que bênção que eles foram para o grupo! Que sincronia o grupo teve com o jovem italiano, o mais que um motorista profissional que nos levou do aeroporto Fiumincino de Roma, nos colocou dentro de Assis e nos acompanhou até Rieti e ao Alverne. Que alegria e amor serviço demonstrado pelas Irmãs, funcionários e voluntários dos lugares onde nos hospedamos! Quando há espírito bom, os horizontes da bondade se abrem diante de nós e o caminho fica mais fácil.

Foi só coisa boa? Noventa e nove por cento sim! E sabe por quê? Porque esta viagem não aconteceu de improviso, ela foi tecida durante três anos de preparação material, econômica e espiritual. Livro com o texto-base foi estudado individualmente e em grupos; os temas e o roteiro pensados e traçados com  quem tinha muito mais experiência; contatos com a Agência de Viagem, fechamento das vagas e convites para preencher  as lacunas das desistências. Meta clara do que se queria com este Itinerário a Assis. Mas não teve nada de dificultoso? Sim! Claro que teve, pois não foi uma peregrinação de anjos, e por isso falemos do 1% de dificuldades que tivemos. Sempre num grupo grande de pessoas (éramos trinta e um!) que andam, convivem e se aproximam, tem lá seus momentos de desafios. É difícil para algumas pessoas, acostumadas a sempre estar no comando e nas lideranças, ter que aceitarem ser conduzidas. Se não estou na frente vejo sempre falha em quem está no comando. Poucas pessoas passaram a viagem reclamando de quase tudo, mas houve quem reclamasse constantemente, claro que nos cochichos e  entre paredes do quarto e ocultos no espaço do nosso ônibus, pois jamais pegariam o microfone para  manifestar a sua opinião de um modo público. Poucas pessoas nos atrasaram ou fizeram valer a sua vontade pessoal em detrimento do comum. Quanta dificuldade em manter o silêncio onde realmente é silêncio e como é difícil para alguns não saber usar o privilegiado tempo que se apresenta como espaço meditativo. Nós e nossas ansiedades e tensões diárias e modernosas! Quando viajamos levamos uma bagagem de frescuras e inutilidades! E temos a dificuldade da inculturação num país diferente do nosso. Quando o espírito não é bom e se escora na negatividade, as coisas começam a dar errado... e algumas pessoas experimentaram na própria pele momentos de sombra obscura num caminho feito de luz. Porém, o grupo soube absorver isto com maturidade! Porém, devo dizer que isto foi muito insignificante e nem perturbou a caminhada.

Hoje, já no sossego do meu quarto e antes de voltar ao meu trabalho aqui no Santuário, desarrumei a mala e percebi que eu estava arrumado por dentro, com uma bagagem enorme de paz e sensação boa de que tudo valeu a pena. O Itinerário a Assis restabeleceu a ordem, a harmonia, e a recolocação centrada num universo físico e espiritual. É agora, mais ainda, um tempo forte de louvar o Senhor; de ter mais motivação para ser um fraterno servidor; um esperar com toda esperança; e aquela vontade de fazer-se puro e bom, simples e descomplicado, Irmão de todos! Paz e Bem!

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