ITINERÁRIO A ASSIS - 14

























Nosso domingo começou bem cedo na Capela do Peregrino onde celebramos  com unção e calma a Eucaristia. Logo em seguida partimos para Perugia, cidade lendária, capital da região e da Úmbria, cheia de sinais da civilização das tribos umbra, etrusca e romana. Bem mais tarde Perugia foi estado pontifício, quando o imperador Carlos Magno  deu ao Papa um bom pedaço da Úmbria, com esta cidade e seus arredores. Como estado pontifício conhece seu apogeu: torna-se comuna com  podestá e cônsules e muito desenvolvimento. Uniu-se em aliança com as cidades de Assis, Gubio e Foligno, todas ligadas a história de Francisco. Uniu-se ao Papa na guerra contra o imperador Felipe II, o Barba Roxa. Tornou-se residência de verão dos Papas, dois deles, conhecidos de nossas Fontes, morreram dentro de seus muros, Inocêncio III ( 1216) e Gregório IX ( 1241). Entramos no obscuro complexo arquitetônico medieval do presídio “Sopramuro”, onde Francisco de Assis esteve encarcerado entre 1202 e 1203, onde começou forte o seu processo de mudança interna e externa. Lugar escuro, que mexeu com o nosso estado de espírito e causou mal estar em pessoas mais sensíveis. Visitamos a praça central com a Duomo e o Palácio do Capitão do Povo, nesta praça Francisco pregou aos perusinos denunciando a ostentação e a arrogância dos nobres. Ao caminhar por ali sentimos um pouco deste mundo baseado no poder do acúmulo das coisas. Mesmo sendo domingo, as lojas abertas gritavam poderosas grifes; vimos um desfile de carros e motos potentes e caríssimas. Elegância exacerbada. Poder. Em meio a este rumor também soava a arte dos cantores e músicos de rua contrastando com o poderio do consumo. Atravessamos mundos.


Em Perúgia inicia-se o Processo de Canonização de Francisco. Ali o jovem Francisco chegou guerreiro sonhando as gestas da cavalaria e o heroísmo vencedor na luta contra os nobres. Saiu derrotado no sonho das armas, mas vencedor ao dar um salto de qualidade em sua vida: iria lutar a vida toda pela glória da Senhora Dama Pobreza.

Às 13h30 chegamos a São Paulo de Bastia, uma igrejinha que restou de um antigo mosteiro das Beneditinas dentro do cemitério da região. Um pequeno templo do século XII. É gritante em sua simplicidade e forte em sua energia espiritual. O Altar de pedra impressiona,  deve ser com certeza o lugar que acolheu Clara de Assis após sua chegada na Porciúncula. Depois da sua fuga é ali que se refugia. Sai de Assis para entrar no mundo de seu Amado Senhor. Neste mosteiro que seus familiares e os cavaleiros, sob a ordem de seu tutor e tio Monaldo, vem buscá-la a força. Diante deste altar, agarrada em sua fé, ela mostra seus cabelos cortados, sinais da mais radical consagração. A força dos seus votos é maior que a força bruta da parentaia. Eles sabem que nada podem fazer contra uma escolha divina. Ali rezamos, meditamos, contemplamos, cantamos e fomos colocar nossas mãos sobre este altar. Fizemos a nossa devoção pelas almas. Renovamos a fidelidade corajosa à Regra que determina a nossa vida. O lugar nos absorveu por um bom tempo. Na beleza da tarde quente e céu azul saímos para ter o resto do dia para andar pelas ruas de Assis. Nos nossos passos um mundo de emoções, memórias, e aquela sensação  que deste lugar nunca saímos ou que devemos, aqui, permanecer para sempre.

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Comentários

inconformada disse…
...lugar de onde nunca saimos, onde permanecemos, e quem sabe para quem não esta aí um dia poder voltar!
Maone
Anônimo disse…
Infelizmente continuam lá, onde o querido e Seráfico Pai pregou, a ostentação, o poder, o luxo. Mas muito do mundo modificou-se e continua a modificar-se por causa dele, de seu santo seguimento do Evangelho de Jesus Cristo. Pude sentir claramente a diferença de atmosferas: a anterior, espiritual, calma, leve e esta tão material e grosseira. Maravilhoso para mim a descrição da visita ao Mosteiro Beneditino onde provavelmente foi o primeiro acolhimento permanente de Santa Clara, a força da fé e dos votos agarrada ao Altar. Eu estou particularmente agradecida por acompanhar essa peregrinação.
Abraços para todos.
Denise.