A CONTEMPLAÇÃO DA NATUREZA - 3ª parte


A Visão Sacramental do Mundo

Os Padres se voltam à Bíblia para sustentar a sua visão otimista sacramental do mundo, e precisamente a Gn 1,10: “E Deus viu que era bom”. Os exegetas da patrística interpretam este trecho lembrando que bom se refere à utilidade das coisas para o Humano, enquanto o belo exprime a alegria fecunda e emergente da própria criação. Os Padres citam freqüentemente esta expressão bíblica para afirmar a Bondade e a Beleza do universo. A bondade e a beleza do mundo derivam da Sabedoria de Deus, criador de tudo aquilo que é. Todo o criado é revestido desta realidade, afirma São Basílio, assim como a água impregna de sua vitalidade uma planta, dando-lhe a possibilidade de revestir-se de cores[1].

Os Padres tendem a ver o mundo como uma “Teofonia” de Deus, uma espécie de sacramento da sua Presença e da sua Beleza. Trata-se de uma verdadeira e própria “cosmologia sacramental”. Todo o mundo é sagrado, porque manifesta o início da encarnação do Logos Divino:

“O mundo é uma coisa boa e tudo nele está colocado em ordem com sabedoria e arte. Tudo, portanto, é obra do Verbo vivente e substancial, porque o Verbo é Deus. É dotado de livre vontade porque é vivente, tem o poder de fazer tudo o que escolhe para realizar, e escolhe somente o que é bom e sábio e tudo o que traz o sinal da perfeição”. [2]

O grande mestre do “sacramentalismo cosmológico” é Orígenes. Para ele o mundo é um mistério, isto é, um sacramento. Mistério é Deus mesmo e tudo o que saiu dele através do Logos. O mundo é feito de sinais significantes que precisam ser lidos para se chegar Àquele que significam. É preciso ter percepção do mistério. “Recordamos que tudo é pleno de mistério”, diz Orígenes, e escreve também: “Tudo o que se alcança, se alcança através do mistério”, pois somente pela graça do Espírito que nós podemos fazer esta leitura. [3]

Máximo, o Confessor, diz: “O fogo inefável e prodigioso escondido na essência das coisas como esteve na sarça ardente, é o fogo do Amor Divino e o esplendor fulgurante da sua Beleza dentro de todas as coisas”. Este fogo Divino é revelado somente através do Fogo do Espírito que leva o mundo a ser contemplado como o grande ícone da Beleza de Deus. [4]


[1] HEXAMERON 5.9PG 29, 113D; 29,76C.
[2] GREGORIO DE NISSA, La Grande Catechesi-VI: PG 45,25C.Trad. Italiana por M. Naldini, Roma, Città Nuova, 1982,60. Cf.a propósito EVDOVIMOV P.N., La teologia della Bellezza, Roma, 1982,126-130.
[3] HOMILIA Lev 3,8: PG 12,433B-434C; HOMILIA Gn 9,1: PG 12,211’12,210-212.
[4] MASSIMO, IL CONFESSORE, de Ambiguis: PG 91,1148C

Amanhã continua com "A Contemplação da Beleza do Mundo"

Comentários

Anônimo disse…
Fantástico Blog, Frei Vitório.

Não professo nenhuma religião específica mas de fato me interesso muito por Teologia, Cristologia e etc... Como jornalista já escrevi matérias sobre Fei Betto, Leonardo Boff e outros tantos pensadores da religião.

Agora estou começando a pesquisa para escrever meu segundo romance cujo personagem principal será um frade franciscano. Seu blog, belo e informativo, já está sendo de grande ajuda.

abraços fraternos
Rodrigo Fernandes