FRANCISCO CHAMA A ATENÇÃO PARA OS PENITENTES SÓ NA APARÊNCIA
E as Admoestações XIV? Vejamos: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Muitos há que, insistindo em orações e serviços, fazem muitas abstinências e macerações em seus corpos, mas, por causa de uma única palavra que lhes parece ser uma injúria a seu próprio eu ou por causa de alguma coisa que se lhes tire, sempre se escandalizam e se perturbam. Estes não são pobres de espírito, porque quem é verdadeiramente pobre de espírito se odeia a si mesmo e ama quem lhe bate na face” (Adm XIV).
São palavras surpreendentes em Francisco de Assis, tão dedicado à oração e a exercícios de penitência. Mas estas palavras revelam a perspicácia que Francisco tinha em distinguir entre os pobres, penitentes e contemplativos só na aparência, que no fundo de seu coração não buscavam mais do que a si mesmos, e ao menor mal que sofressem, ou algo de ruim que os afligisse, fugiam da serenidade.
Muito diferente daqueles que faziam da penitência um caminho para diminuir os exageros do eu, e desprendidos e humildes, amavam as contrariedades, não temiam perseguições, porque o seu eu se anulava na força do Senhor. A expressão pobreza de espírito ou pobreza com espírito é, efetivamente, a ação do Espírito Santo que opera em pessoas de virtudes autênticas. Aquelas pessoas que tinham um verdadeiro amor ao Espírito do Senhor. Para isto temos que ir à Regra não Bulada, Capítulo V: "E cuidem todos os irmãos, tanto os ministros e servos como os demais, para não se perturbarem ou se irritarem por causa do pecado ou do mal do outro, porque o demônio quer, por causa do pecado de um só, corromper a muitos; mas ajudem espiritualmente, como melhor puderem, aquele que pecou, porque não são os sadios que precisam de médico, mas os enfermos. Igualmente, nenhum irmão exerça qualquer poder ou domínio, mormente entre si. Pois, como diz o Senhor no Evangelho: Os príncipes das nações as dominam e os que são os maiores exercem poder sobre elas; não será assim entre os irmãos; e quem quiser tornar-se o maior entre eles seja o ministro e servo deles; e quem é o maior entre eles faça-se o menor ( cf Lc 22,26)” (RnB 5)
Imagem de Mariano Salvador Maella, pintor espanhol (1739-1818)
Continua
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