GARIMPANDO ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE FRANCISCO DE ASSIS


Eloi Leclerc segue a mesma ideia ao contemplar Francisco como amante agraciado e genial. Com uma riqueza própria e excepcional de sua humanidade que trabalha bem o espírito, alma, coração, sentimento, afeto e emoção. É o caminho para amar de maneira única a Deus, o ser humano e cada criatura com tamanha profundidade. Francisco entendeu muito bem a Encarnação: o Espírito de Deus se fez de forma radical carne e sangue, se deu em todos os aspectos de pessoa, comunicou-se por inteiro como obra perfeita do Pai.

Eloi Leclerc diz que em Francisco há um humanismo afetivo, cósmico, de amor cordial sem restrições. Em Francisco, repetindo uma ideia de Chesterton, Leclerc diz que humanos e criação não formam um bosque, mas árvores independentes e únicas de uma floresta contemplativa. Cada pessoa e cada ser formam uma realidade única, objeto de um amor único. Isto traz simpatia, encanto, cortesia, nobreza, cordialidade, ternura, fineza de sentimentos, magnitude de espírito, amplidão para fazer brilhar em tudo uma amizade fraterna. Nele isto se transforma num desejo de paz, de todo bem, de bênçãos e graças, perdão, reconciliação, fraternidade recíproca, fidelidade e amizade, uma amizade diferenciada, honrada e preciosa.

Vejamos isto nas Fontes: “Um irmão de nome Ricério, nobre pela estirpe e pelos costumes, tinha tanta confiança nos méritos do bem-aventurado Francisco que acreditava merecer a graça divina quem possuísse o Dom da Amizade do mesmo Santo ou merecer a ira de Deus quem dela carecesse. E como desejasse ardentemente obter o benefício da amizade dele, temeu muito que o santo descobrisse nele algum defeito oculto e que por este motivo acontecesse que mais se distanciasse da amizade dele. Então, afligindo tal temor cada dia e gravemente o referido irmão, e não revelando ele o seu pensamento a ninguém, aconteceu que, num certo dia, perturbado como de costume, chegou à cela em que rezava o bem-aventurado Francisco. Conhecendo o homem de Deus a chegada e ao mesmo tempo o espírito dele, diz-lhe benignamente, depois de tê-lo chamado a si: 'Filho, doravante nenhum temor, nenhuma tentação te perturbe, porque me és muito caro, e entre os especialmente caros eu te amo com caridade especial. Venhas com segurança a mim, quando te aprouver, e te retirarás de mim livremente por tua vontade.' Aquele irmão ficou não pouco estupefato e se alegrou nas palavras do santo pai e em seguida, seguro quanto à afeição dele, cresceu também na graça do Salvador, como acreditara”. (2Cel 44).

Em Francisco a afetividade é um domínio da espiritualização da vida e da vivificação da vida no Espírito. É preciso conquistar pessoas amadas para a vida. Isto não é romantismo, mas Forma de Vida, Forma de Amor do jeito do Evangelho.

Continua

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