ECOTEOLOGIA- PARTE 11-UNIDADE 3- 4. A LUZ QUE A FÉ OFERECE E 5. EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICAS

 


O conhecimento e a inteligência humana não explicam totalmente a vida. Mas a fé é o grande suporte para compreender a existência e oferecer significados. A coerência com o modo de crer defende a vida. Isso porque,

[...] qualquer solução técnica que as ciências pretendam oferecer será impotente para resolver os graves problemas do mundo, se a humanidade perde o seu rumo, se esquece as grandes motivações que tornam possível a convivência social, o sacrifício, a bondade. Em todo o caso, será preciso fazer apelo aos crentes para que sejam coerentes com a sua própria fé e não a contradigam com as suas ações; será necessário insistir para que se abram novamente à graça de Deus e se nutram profundamente das próprias convicções sobre o amor, a justiça e a paz. (FRANCISCO, 2015, p. 117)

Os habitantes da terra, em sua maioria, pertencem a uma religião, e as religiões dialogam muito pouco sobre o cuidado da natureza, a defesa da vida, a defesa dos pobres. Se as religiões são espaços organizados da fé, tem que dialogar com a ciência para mostrar as iluminadas compreensões da fé, para não fechar os caminhos do saber e de crer. Nos movimentos ecologistas a mística deve estar presente para que equilibre as lutas ideológicas. A fé inspira a busca do bem comum, pois há uma inspiração nas realidades.

5. EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICAS

Para que serve a educação? Para colocar a humanidade em um caminho seguro, mais evoluído e transformado. E a espiritualidade? Ela nos desperta para uma origem comum que vem do mesmo Sopro, de uma pertença a dimensão espiritual e criatural, de uma vida que deve ser partilhada. Educação e espiritualidade geram novas certezas, atitudes, desafios culturais, educativos e espirituais que equilibram e põem freios na mentalidade apenas consumista e acumulativa.

A educação e a espiritualidade despertam para uma vivência mais comum para tirar o isolamento que vem do uso errado das mídias, da autorreferencialidade e de um certo egoísmo que torna as pessoas muito consumistas. Se há um vazio, ele tem que ser preenchido. Sem valores espirituais e educacionais este vazio é preenchido por objetos de consumo que mostram um estilo de vida. Tem pessoas que entram em crise existencial se não tem um celular de última geração. Contudo, nas palavras do Papa,

 [...] nem tudo está perdido, porque os seres humanos são capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. São capazes de olhar para si mesmos com honestidade, externar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade. Não há sistema que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir e a certeza que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações (FRANCISCO, 2015, p. 120).

Se mudamos nosso estilo de vida para um modo mais despojado e voltado para o bem comum podemos exercer uma pressão junto aos que tem o poder político, econômico e social. Se consumirmos menos mudamos o comportamento das empresas e elas vão perceber e reconsiderar os impactos ambientais na produção. É a responsabilidade social que muda a mentalidade de quem compra ou vende. O Papa Bento XVI (2009, p. 66) frisou que “[c]omprar é sempre um ato moral, para além do econômico. O tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós”.

IMPORTANTE

“A Carta da Terra convidava-nos, a todos, a começar de novo deixando para trás uma etapa de autodestruição, mas ainda não desenvolvemos uma consciência universal que o torne possível. Por isso, atrevo-me a propor de novo aquele considerável desafio: ‘Como nunca antes na história, o destino comum obriga-nos a procurar um novo início [...]. Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar duma nova reverência face à vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida’” (FRANCISCO, 2015, p. 121)

A educação e a espiritualidade colaboram para que a pessoa saia de si mesma em direção ao outro, de modo que reconheça as criaturas e a totalidade da vida. Sem perceber os valores não tem como ter limites, ver o sofrimento e a degradação. Sair de si mesmo possibilita melhor o cuidado, suscitando uma nova consciência que se transformam em novos hábitos. Não basta a acumulação de coisas, mas sim romper com a escravidão do mercado e ter mais sensibilidade para com a vida, com espírito generoso e voltado para o bem comum da casa comum. Este é um desafio espiritual e educativo.

A educação ambiental, mais do que ancorada na informação científica, traz um novo modo, que é a lucidez crítica ante os riscos ambientais, os mitos do mercado moderno, o individualismo, concorrência sem regras, a interioridade, a solidariedade, o natural e o espiritual com Deus.

A educação ambiental deveria predispor-nos para dar este salto para o Mistério, do qual uma ética ecológica recebe o seu sentido mais profundo. Além disso, há educadores capazes de reordenar os itinerários pedagógicos de uma ética ecológica, de modo que ajudem efetivamente a crescer na solidariedade, na responsabilidade e no cuidado assente na compaixão. (FRANCISCO,2015, p. 122)

Educação e espiritualidade tem que levar a uma cidadania ecológica, não apenas de informação e de estudos, mas de formação de hábitos concretos, com motivações adequadas para criar leis e cumprimentos adequados. À vista disso, “[a] doação de si mesmo num compromisso ecológico só é possível a partir do cultivo de virtudes sólidas” (FRANCISCO, 2015, p. 123). Se educamos para diminuir os gastos com energia de gás, água e luz, no dia a dia caseiro, cuidamos do ambiente todo. A criação toda está nas pequenas ações diárias de cuidado: diminuir o uso de plástico, papel, água, excesso de comida, veículos e outras ações como o uso de transporte público, plantio de árvores, apagar as luzes que estão acesas sem necessidade. Não desperdiçar é um ato de amor.

A educação e a espiritualidade devem levar a ações e esforços capazes de mudar o mundo. O bem deve ser difundido. A nossa passagem por esta terra tem que deixar a nossa marca de contribuição para a melhoria da terra. Devem usar todos os modos formativos: família, escola, meios de comunicação, catequese, círculos de estudos bíblicos e tantos outros modos. Em tudo conscientizar e criar hábitos do uso correto das coisas, o conhecimento dos ecossistemas, limpeza e harmonia. Uma ação familiar age sobre as associações de bairro. As Igrejas eduquem para a austeridade responsável, para a visão contemplativa do mundo, ter nas suas pautas a questão ambiental e a fragilidade dos menos favorecidos.

IMPORTANTE

Nesse cenário, então “[...] não se deve descurar nunca a relação que existe entre uma educação estética apropriada e a preservação de um ambiente sadio. Prestar atenção à beleza e amá-la ajuda-nos a sair do pragmatismo utilitarista. Quando não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende que tudo se transforme em objeto de uso e abuso sem escrúpulos. Ao mesmo tempo, se se quer conseguir mudanças profundas, é preciso ter presente que os modelos de pensamento influem realmente nos comportamentos. A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Caso contrário, continuará a perdurar o modelo consumista, transmitido pelos meios de comunicação social e através dos mecanismos eficazes do mercado” (FRANCISCO, 2015, p. 125).

Educação ecológica e espiritualidade como conversão ecológica podem renovar a humanidade. Convicções do que acreditamos e ensinamos geram consequências e mudanças no modo de pensar e agir, alimentam paixões pelo cuidado da nossa casa comum. Doutrina, pedagogia devem encontrar-se para motivar e levar a ações pessoais e comunitárias.

Temos que reconhecer que nós, cristãos, nem sempre recolhemos e fizemos frutificar as riquezas dadas por Deus à Igreja, nas quais a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia. (FRANCISCO, 2015, p. 125-126)

IMPORTANTE

“Se ‘os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos’, a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus”. (FRANCISCO, 2015, p. 126)

Normalmente, as religiões desejam que cada um se torne melhor, e isso é correto, mas não basta que cada um seja melhor sozinho. Partilhar bens pessoais implica uma consciência comunitária. Conversão pessoal é também conversão comunitária. Assim, tal conversão se dá por intermédio de uma mentalidade generosa e terna, gratidão e gratuidade, reconhecimento do dom recebido que deve ser dom partilhado, renúncias para ter generosidade, e a prática humilde que até se coloca no anonimato: “Mas quando deres esmola, não saiba a mão esquerda o que faz a direita. Assim a tua esmola se fará no oculto e o Pai, que vê no oculto, te dará o prêmio” (Mt 6,3-4). 

Implica ainda a consciência amorosa de não estar separado das outras criaturas, mas de formar com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal. O crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres. (FRANCISCO, 2015, p. 127)

A conversão ecológica é a certeza de que cada criatura é o reflexo do Criador e tem uma verdade própria que deve ser respeitada, porque melhora a qualidade de vida. Não podemos deixar de acentuar a sobriedade, que é a capacidade de se alegrar com a medida d necessário e se alegrar com o pouco.

É um regresso à simplicidade que nos permite parar para saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem nos entristecermos por aquilo que não possuímos. Isso exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prazeres. (FRANCISCO, 2015, p. 128)

A sobriedade nos liberta. Ela não diminui a intensidade de viver bem, mas leva a viver melhor com o que se pode ter estabelecendo uma relação mais próxima de todas as coisas, e mostra muito mais as possibilidades que a vida pode oferecer na relação com as coisas e com todos os seres. A sobriedade de todos levaria a diminuição dos que nada têm.

Junto com a sobriedade vem a humildade, que não instaura o domínio sem limite, mas não atrela a vida a simplesmente possuir. A sobriedade e a humildade nos dão a paz para reconstruir a fragmentação da vida, viver com mais calma, menos ruído, menos pressa, menos ansiedade, sem atropelar a vida. A paz facilita a experiência da ecologia integral que em prol da recuperação da harmonia com toda a criação divina, de mesmo modo que influencia na reflexão acerca de nossos ideais, nosso estilo de vida e na contemplação do Criador (FRANCISCO, 2013, [n. p.]). Logo, a educação e a espiritualidade devem nos levar a fraternidade universal, isto é, viver juntos e em comunhão.

IMPORTANTE

“É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que essa alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento duma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente”. (FRANCISCO, 2015, p. 131)

A ecologia integral é feita de caminho de amor, de palavras e gestos gentis, sorrisos, amizade que possam substituir a violência e o egoísmo que explora. Não podemos maltratar nenhuma forma de vida. É um compromisso também com o bem comum realizando gestos de cuidado mútuo na política, na vida civil, no amor a sociedade, a cidade, instaurar mesmo a civilização do amor que priorize a cultura do cuidado.

Quando pedagogia e ecologia se unem pode brotar uma consistente espiritualidade. O modo franciscano de educar é um casamento perfeito entre intelecto e afeto, a união harmoniosa de cabeça e coração e isso transforma o mundo, e que potencial de transformação existe num tema como este que procura mostrar uma visão originária de mundo. A cosmovisão franciscana tem força educadora, é naturalmente uma escola pedagógica, uma escola de discipulado. Abraça a vida na minoridade como liberdade, igualdade e fraternidade.

Educar é pulsar uma nova visão cósmica que abrace a itinerância pela terra dos humanos de olho nos astros e estrelas que sempre compuseram o imaginário do ser humano e conduziram pastores de ovelhas e navegadores. É uma forma de contemplação na ação. Educar é ser para o outro e para todos os seres um sentido primário da fraternidade. Ninguém pode ficar fora do processo, se faltar uma criatura falta o todo. Nesta visão o mundo, as pessoas, os seres são pensados como forma de totalidade.

Francisco de Assis convive, come, dorme e fala aos ricos e mendigos, reúne o clérigo, o camponês, o artesão e o cavaleiro; da pobreza à nobreza uma história de reconstrução da casa da existência com as imagens reais da história da humanidade. A herança e a intuição franciscana influenciam definitivamente uma pedagogia clara, forte e provocadora.

Estamos em uma mudança de época, o que caracteriza uma época não são apenas os conflitos, mas seu paradigma de fé e seu modo de ver o mundo. A herança medieval franciscana está ancorada em crer em uma inspiração, fazer valer a vontade do Senhor, mudar de mentalidade e mudar de lugar num processo de conversão para um novo projeto civilizatório. O modo de educar na ecoespiritualidade é um projeto feito como um varal onde penduramos os valores em que acreditamos. Neste contexto, temos que relembrar os valores da casa comum em que habitamos, não podemos ter vergonha da fé que professamos e dos valores que carregamos e os valores que ensinamos, por isso, temos que apresentar isso ao mundo!

É preciso educar para um novo modo de ser, para uma nova aliança entre a humanidade e o ambiente, acompanhar e influenciar a transformação da infância, dos adolescentes dos jovens e dos adultos. Favorecer formas de educar que tragam realização humana e cuidado com a criação para gestar um novo tipo de ser humano e um mundo mais viável. Educar para a sensibilidade e compaixão. Educar para a solidariedade e para o sentido bom da vida. Temos que fazer a globalização da solidariedade. Francisco de Assis construiu um caminho onde não havia caminhos. O desafio da educação ecológica franciscana hoje é o mesmo.

É preciso levar tais verdades nas Semanas Pedagógicas de nossas instituições educativas como um grande fôlego e uma grande retomada. Conduzir para frente com linhas bem claras de uma pedagogia própria. Conduzir para fora o que está latente dentro de nós e despertar para o que já somos! Não educar como apenas informar, isso pode passar somente um acúmulo de saber, porém despertar para ser pessoa integrada no todo da vida e na compreensão da vida. A vida é mais do que a disciplina.

Toda pessoa é convocada a construir seu mundo e o mundo que está ao seu redor, sendo assim, no nosso caso, somos umbilicalmente ligados a um pensamento e prática de Francisco de Assis, que viveu a liberdade do Evangelho com tudo e com todos. Tão livre que abraçou o leproso e o Crucificado e foi abraçado no encontro com o leproso pelo Crucificado; os pobres banharam Francisco de misericórdia.

Educar franciscanamente é, acima de tudo, desejar fazer com todas as fibras do coração o que fez o Arauto do Amor que tem que ser amado. Para Francisco tudo é irradiação do Amor de Deus! Francisco foi visitado por uma inspiração, visitado pelo Senhor, despertou. Ele se transformou em um admirado, o plenamente alegre e transformado. Diante de tal nobreza, como ter um coração pesado? Temos que ser educadores no modo franciscano.

O educador franciscano, encontrado por tamanha inspiração, ultrapassa o seu mundo pessoal e, como Francisco, deve fazer este movimento: antes de ser visitado, pede e, depois de visitado, agradece, reconhece, compromete-se. O educador franciscano tem o espírito de Marta que era só servir. O amor ao Senhor fez dela um serviço. O Senhor que entrou em sua casa a fez servir o Amor que a visitava e está sempre, aos pés do Senhor, como um aprendiz! O educador franciscano tem olhar de águia e alma sertaneja, é concentrado e expansivo, inspira-se nas criaturas e nos pobres para assumir a sua finitude, não tem medo de perdas e carências. O bom educador vai sempre ao essencial! “Ser o que somos para ser o que devemos ser” (Tristão de Athayde).

Na vertente franciscana, espiritualidade e afetividade não se separam. Nós amamos, porque fomos amados e, por isso, nós temos algo de próprio. Ir para o aprendizado é como ir aos domingos procurar a fome de um Deus que nos alimenta. Ser um Riobaldo – em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa –, um homem que precisa fazer a travessia e confrontar-se com tudo.

Temos que ser como Francisco de Assis, que irradia um modo de ser e fazer um caminhar que reescreve o Gênesis. Aprender e ensinar a seguinte verdade: tonar mais nítido o que nos atraiu, a liberdade que nos foi dada no natural de uma conquista. A herança franciscana não é o conjunto de técnicas metodológicas, mas sim as razões que nos dão um horizonte para uma existência. Buscar essas razões como um cão que, na feira livre, procura o seu dono cheirando as canelas da multidão. Procurar o dono é o afeto forte que se sente por ele.

Para onde vão nossas ideias? Em qual direção? A cabeça pensa onde os pés pisam. Educar franciscanamente é ensinar conceitos, hábitos e valores que sustentam cada ser humano. É ensinar a amabilidade, a sinceridade, a confiança mútua, o autocontrole, a fraternidade universal, a resistência, a lucidez, a audácia, a consciência, a vontade, a inteligência e a estratégia. Todos esses são atributos mais importante do que o deus dinheiro que invade escolas transformadas em mercado. Temos que dar graças por haver uma outra cultura possível. Valores são dinâmicos e nossas escolas têm que ser o lugar do renascimento axiológico exigido pelos tempos atuais. A sociedade líquida (BAUMAN, 2007, p. 76) não pode dissolver esses valores. Mas temos que fazer da educação um processo de degustação, como em um banquete, ao invés de ser com a aceleração dos fast-food, para, assim, não entrar na rápida cultura do descarte. O consumismo vende necessidades que não temos. A hiperinformação e a hipercomunicação não injetam nenhuma luz na obscuridade.

O nosso lugar é na nossa Casa Comum e no cosmo e, por isso, temos que ter muito cuidado com ela. Não devemos nos esquecer que o nosso vínculo é com todo ser criado. Na turbulência global em que vivemos, a questão ambiental tem quer ser prioridade nas escolas. Salvar a terra não é privilegiar o capital. Se estragamos vamos ter que consertar. É ser corpo e corporeidade e não apenas cabeça isolada. A escola não pode ignorar o corpo. Temos que cuidar bem da afetividade e do manejo de nossas sensações, de modo que façamos cada vez mais humana a humanidade. Temos que criar uma pedagogia do encontro, um diálogo como condição para fraternizar um mundo multireligioso e multicultural.

Não podemos ter valores genéricos. Temos vida interior e transcendência, responsabilidade e compromisso, assim, temos que ser uma presença da paz, da reconciliação e da misericórdia. Educar franciscanamente é a construção de uma civilização baseada no amor. Temos que educar para a paz, pois nosso estilo é pacífico e não violento, que evita toda e qualquer contenda.

Atacamos demais a violência feita em outras culturas, todavia não podemos esquecer que as maiores atrocidades da história foram feitas por países cristãos, como a inquisição que matou muito mais do que qualquer fundamentalismo islâmico. Também precisamos viver a solidariedade em oposição a competitividade, os dados evidenciam que três milhões de pessoas vivem em condições sub-humanas.

A vida não pode ser uma loteria biológica. Temos que ser da contemplação, da ternura, do maravilhamento e da tolerância, de maneira a resgatar a vida simples e a cotidianidade. Mesmo em meio aos valores questionados, temos que manter a nossa postura alteritária: colocar-se sempre no lugar do outro e criar todas as condições para que a humanidade possa viver com dignidade e felicidade. No século XIII, a proposta franciscana antecipou o futuro e enfrentou todos os desafios sem psicose defensiva. Já no século XXI, a dimensão profética mostra que educar franciscanamente é construir uma nova humanidade, um novo céu e uma nova terra! A felicidade, a realização está dentro de nós e na verdade de todas as criaturas.

Texto originalmente publicado pela USF- FREI VITORIO MAZZUCO FILHO




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