ECOTEOLOGIA- PARTE 10-UNIDADE 3- 3. O OLHAR DE JESUS E A HARMONIA COM OS ELEMENTOS DA NATUREZA: A ÁGUA, O FOGO, O VENTO E A TERRA
O olhar de Jesus é a sua
presença através da Encarnação nesta Terra. Ele abraça a vida no chão onde
nasce a vida. O Evangelho de João afirma o amor de Deus ao mundo e a capacidade
de entregar seu Filho para trazer vida em abundância (Jo 3,16). Jesus vem
transformar o que é terreno. Está inserido em Belém, Nazaré, na Judéia, na Galileia.
É dado à luz num espaço de rocha, gruta, animais, feno, palha e animais. É no meio
da natureza que Ele vem à luz para revelar a presença de Deus na natureza, no mundo
e na história. Ele é Deus encarnado que vem gerar uma vida nova em meio a todos
os seres viventes.
Dos caminhos da Galileia
chega ao centro que é Jerusalém para mostrar que o mundo deve se tornar o Reino
Adorável do Pai Celeste: tudo deve ser transformado em vida nova para tudo e
todos. Ele olha a vida e diz que ela é semente de mostarda, vinha, grão de trigo,
aves do céu e lírios do campo. Jesus olhou e amou a terra. Ela é o chão maternal
de onde depende a vida Ele vem viver na terra e vive do sustento da terra: pão,
espigas e uva.
As parábolas de Jesus mostram o milagre da terra produzindo cuidado; cultivar é produzir vida. Repartir sacia a fome de muitos. Ele multiplica o pão para que o povo que o acompanha não enfraqueça com a fome. Ele mesmo se dá como alimento: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. E o pão que darei é minha carne para a vida do mundo" (Jo 6, 51). Toda fome é saciada com o que a terra produz, e esta produção é o modo como Deus se dá como própria carne. Ele encarnou-se e assumiu a terra e o jeito dos que habitam a terra como expressão da maior graça: a doação do Pai em suas obras.
Nas águas do Jordão ele é batizado, no mar da Galileia ou lago de Genesaré Ele pesca com os discípulos, transforma a água em vinho e vive uma vida simples como a água. Matou a sua sede à beira do poço de Jacó onde pediu à Samaritana desse de beber. A água sustenta a vida. Ele enfrentou a chuva tempestuosa. Assim como a água, onde Jesus está há vida em profusão: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: do seu interior correrão rios de água viva” (Jo 7,37-38).
“Aqui, nas parais
do Mar Jardim, surgindo quase que do nada, na verdade: vindo de outra margem de
todos os mares deste mundo, sim, do jardim de Deus, apareceu, um dia, Jesus de
Nazaré. Ali nas cercanias daquele lago, ele teria convocado os seus discípulos,
falado aos homens e mulheres, feito milagres e encantado multidões. Essa parece
ter sido a mais dileta paisagem de toda a sua terra natal. Talvez, por um
motivo muito simples: existem coisas, muitas até, neste mundo que nos arrebatam
para Deus. Uma rocha, uma árvore, o céu, as estrelas, o fogo, o ar, a água, um
lago. Nada disso é sagrado, mas, junto a essas coisas, sentimo-nos, não raro,
reportados à firmeza (rocha), à proteção (árvore), ao infinito (céu), à luz (estrelas),
ao calor (fogo), à suavidade (ar), ao alívio e à força (água), ao sustentáculo
(lago) de nossa própria vida e de todas as coisas: Deus. Assim também para
Jesus de Nazaré. O mar da Galileia era-lhe, com certeza, um sacramento daquele
que Ele carinhosamente, chamava de seu Pai. E talvez seja por isso que Ele
tenha permanecido durante toda a sua vida à beira de um lago: para que nós,
ouvindo-o e vendo O Mar Jardim, compreendêssemos que a mais alta vocação deste
mundo é ser um jardim e não um deserto e para que, avistando à nossa frente o
amor humanitário de Deus nos sentíssemos, para sempre, sob o Olhar do Altíssimo.
E contemplando, quem sabe, na superfície de todas as águas, como num espelho, o
céu, percebêssemos, finalmente, que temos uma outra sede e que existe uma outra
água: humilde, preciosa e casta”. (NERY, 1999, p. 29)
Texto originalmente publicado pela USF- FREI VITORIO MAZZUCO FILHO
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