SANTA CLARA E AS CLARISSAS EM SÃO DAMIÃO


Em 1228, Tomás de Celano escreve um testemunho de grande importância sobre a vida de Clara de Assis e as Clarissas no Mosteiro primitivo de São Damião. Não são meros detalhes. Elas são a guardiãs da inspiração e ficam ali no cuidado do manancial e são a própria fonte da dimensão contemplativa do mesmo Carisma. Se Celano escreve é porque ouviu e viu. Ele não é apenas um biógrafo e escritor de talento, mas um atento observador. Clara de Assis e suas primeiras Irmãs vão para o manancial do Carisma que é São Damião. Morar na Fonte é alimentar o caudaloso rio que se espalha pelo mundo há oito séculos levando a água viva da força franciscana e clariana. Francisco chega primeiro em São Damião, e como diz Celano: “Constrói uma casa para Deus e não tenta construí-la de novo, mas restaura a antiga, conserta a velha; não arranca o fundamento, mas edifica sobre aquele fundamento” (1Cel 18,1-2).

Celano diz que, seis anos após ter chegado aquele lugar, ele retorna para continuar a reconstrução de São Damião. Lugar pronto, lugar preparado para colocar a preciosidade que vem de Clara e suas companheiras: "Este é aquele feliz e santo lugar em que, decorrido já o espaço de quase seis anos da conversão do bem-aventurado Francisco, teve feliz início, por intermédio do mesmo homem bem-aventurado, a gloriosa Religião e excelentíssima Ordem das Damas Pobres e virgens santas; neste lugar viveu a Senhora Clara, oriunda da cidade de Assis, pedra preciosíssima e fortíssima, fundamento de outras pedras sobrepostas” (1Cel 18, 4-5).

O lugar e o espaço fundem-se com as qualidades. Feliz e santo lugar. Pura energia de fecundante amor contemplativo. São Damião agora transforma-se em mosteiro, lugar precioso de precioso tesouro. Antes, a rudeza das pedras colocadas do alicerce ao suporte do teto, agora pedras preciosas sobrepostas. A identidade de Clara de Assis molda vidas: “Na verdade, depois do início da Ordem dos Irmãos, depois que a dita Senhora se converteu a Deus pelas admoestações do santo homem, ela foi posta como proveito para muitas como exemplo para inúmeras” (1Cel 18, 6).


Francisco tem o modelo vivo de Jesus, Clara tem o modelo vivo de Francisco e de Jesus, é um entrelaçamento de vidas e valores: “Nobre pela estirpe, mais nobre pela graça. Virgem no corpo, castíssima no espírito, jovem na idade, mas madura no espírito, firme no propósito e ardentíssima no desejo do amor divino; dotada de sabedoria e de especial humildade: Clara de nome, mais clara pela vida, claríssima pelos costumes” (1Cel 18, 7). Há a força da conversão, a mudança total da existência que agora tem um foco preciso do sagrado, há a inspiração de Francisco e o jeito como Clara encarnou a graça, a nobreza do espírito, a maturidade espiritual, a firmeza dos propósitos, o desejo ardente, a sabedoria e a humildade, a força da virtuosidade na clareza do nome. Vida atrai vida! Uma vida se reconstrói absorvendo o melhor do humano e o melhor de Deus. São Damião é este lugar.

“Sobre ela ergueu-se a nobre estrutura de preciosíssimas pérolas, cujo louvor provém não dos homens, mas de Deus, visto que nem a limitada faculdade de pensar é capaz de meditá-la, nem a concisa linguagem é capaz de explicá-la” (1Cel 19, 1). Celano, com toda a sua capacidade de intelectual sente-se limitado para descrever o que acontece ali, então busca as vidas e o lugar, espaço da mais nítida compreensão.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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