REFLEXÕES SOBRE A DIMENSÃO POLÍTICA DO FRANCISCANISMO – 15


Os penitentes de Assis viveram a fé teologal a partir da realidade pessoal


Se podemos viver um compromisso de fé, ela naturalmente se torna também um compromisso político no verdadeiro sentido da palavra: acreditar no bem comum. Uma vida de fraternidade bem organizada é politizada, pois não conta apenas uma ação individual, mas coletiva. Projeto pessoal e projeto comunitário não se separam. O grupo primitivo de Francisco de Assis deixa seus projetos pessoais familiares e classistas e abraçam um modo de vida comum, que não é ingênuo ou idealista, mas é a força do Evangelho vivido.

A Fraternidade primitiva de Francisco contou apenas com o que o Senhor revelou; e foram conduzidos aos flagelados de então. Eles desatam a Palavra de Deus dos púlpitos e a levam para as praças. São pessoas simples que refazem a presença dos profetas veterotestamentários; são pregadores ambulantes resgatando a prática jesuânica; vivem com a força dos grupos como a tradição apostólica dos Atos. Não há contradição entre prática e pregação como havia na eclesiologia de seu tempo. Todos têm vez no novo modo de viver fraterno. As mulheres são integradas na mesma força pela segura presença de Clara de Assis. Têm poucas dificuldades com a instituição eclesial, porque vivem a paixão por Jesus, pelo Evangelho e pelo povo. Aqueles mendicantes reacendem sonhos humanitários e esperançosos de amanhã para as pessoas. Neles, a fé no Cristo pobre no pobre criou uma identidade.

Eles possuem uma identidade cristã que não vem definida pela hierarquia, mas sim para onde conduz o Espírito do Senhor e o seu modo de operar. Não têm planejamento pastoral, mas têm missão. O Evangelho, mais do que força exegética que gerou inúmeros comentários teologais, é para eles uma referência de vida. Quando perguntavam quem eram, respondiam ser penitentes de Assis.

Estes penitentes viveram um caminho de fé teologal a partir da realidade pessoal. Deixaram tudo como os primeiros seguidores de Jesus, e foram viver uma presença divina inserida no projeto histórico de Deus.  Um Deus que está no comunitário grupal, social e cósmico. Não há lugar onde Ele não esteja. Abraçam presépio, altar e cruz como privilegiados da instalação e conquista do Reino de Deus. Estes penitentes mostraram o Deus da convivência e da coexistência trinitária, um Deus uno, vivo e Três Pessoas, totalmente apaixonado pela vida.

 O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, humilde e pobre no presépio, encarnado na situação humana e desumana. O Deus da Eucaristia, presença total, completa e alimentadora da história. O Deus Espírito de Amor que mostrou para eles afeto na dureza da vida, sonhos e mais sonhos para fazer valer a utopia do Evangelho.

FREI VITORIO MAZZUCO

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