ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA - Alguns Apontamentos - VI



31. Jesus teve uma proposta concreta e epifânica do Reino. Formar comunidades não é o centro de sua preocupação. Ele escolhe discípulos e apóstolos que fazem com ele um caminho e não formam de imediato comunidades. As comunidades nascem após a Ressurreição. Jesus conheceu de perto a experiência monástica dos essênios, mas não existe nenhuma prova de seu relacionamento direto com eles. O fenômeno do silêncio entre Jesus e Qumrân é recíproco. Jesus não empostou sua mensagem diretamente para os grupos de seu tempo. Mas isto não quer dizer que a Vida Religiosa Consagrada não tenha inspiração no Evangelho.

32. Por que Jesus não mandou o Jovem Rico para a comunidade de Qumrân? Ele não queria a Perfeição? Para seguir e imitar Jesus não há total necessidade de entrar num estilo comunitário de vida. À rigidez de normas de vida dos essênios Jesus contrapõe a pregação contra os exageros do formalismo. Em Qumrân havia muita hierarquia. Os essênios viajavam armados. Jesus prega a não violência e manda bendizer os inimigos. Os essênios dividiam a sociedade em duas categorias: os filhos das trevas e os filhos da luz; para eles não havia salvação fora da comunidade.

33. A mensagem de Jesus não é exclusiva para um asceta, para um membro de uma comunidade ou de um gueto. Jesus prega a perfeição como meta para todos, de um modo especial para os perdidos, os simples, os pescadores e os sem oportunidades. O Evangelho não fala do essenismo e não esclarece as formas religiosas de seu tempo; só há citação sobre fariseus e saduceus que entram em conflito com a pregação de Jesus. Há uma vida religiosa primitiva pré-cristã que habitava ruínas, cavernas e comunidades, mas com inspiração um tanto diferente da pregação de Jesus.

34. Historicamente, os Apóstolos vêm apresentados como modelo de vida religiosa. Pode-se dizer que a Vida Religiosa Consagrada é uma continuação natural e específica da forma de vida e seguimento dos Apóstolos? Uma resposta afirmativa não se pode dizer com um simples sim ou não. Mas é preciso olhar atentamente a mensagem e a vida de Jesus e do Evangelho.

35. Os Apóstolos tiveram uma existência, uma convivência física com Jesus. Viveram de um modo singular, exclusivo, excepcional, que nunca mais se repetiu na história de uma vida condicionada em tempo, lugar e missão específica. Para viver e seguir o Mestre se destacam de seu ambiente abandonando tudo. Depois da morte de Jesus retomam a sua vida. Tempos depois, por uma chamada excepcional do cristianismo nascente, continuam o movimento do Reino deixado por Jesus e levam o cristianismo para todas as fronteiras. Formam comunidades institucionais de divulgação e vivência do cristianismo, organizam a assembleia dos que creem. Os Apóstolos respondem a uma conjuntura histórica muito específica, nisso são inimitáveis! Isto comporta uma opção de Carisma, muita determinação, dever, missão, um ofício próprio diante do mundo e no seio da comunidade que vai nascendo por inspiração de Jesus. Ele é a pedra angular, os Apóstolos são os construtores. É uma construção teológica, espiritual e comunitária da experiência de vida cristã.

Continua

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