Reflexões Franciscanas - 5



11. Francisco de Assis herdou dos ideais cavalheirescos um idealismo muito forte (1Cel 2-4). Os valores do Código da Cavalaria Medieval estão muito presentes em sua personalidade. Amabilidade, cortesia, modos distintos, nobreza, virilidade, afabilidade, sinceridade, lealdade, ser livre, fiel, magnânimo, ousado, corajoso, sempre pronto para a ação, decidido. Mesmo preso em Perugia (2Cel 4), em meio à tristeza, abatimento e à tediosa impaciência de seus companheiros de cárcere, Francisco mostra-se na sua grandeza de alma, uma alma elevada e boa, conservando o seu humor, vivendo de sonhos e esperanças, tendo um forte domínio de si mesmo, otimismo transparente, tudo para não deixar-se humilhar pela dura provação que é estar preso e derrotado pela guerra. Jamais a sua vida será triste e banal. Ele acredita nas suas forças interiores. Conviver com nobres, ler romances de cavalaria, vivenciar a guerra de Assis contra Perugia, mexe e molda seu caráter. Como todo jovem da época, sonhava merecer se tonar cavaleiro para enfrentar diferentes tipos de batalha.

12. Gualter de Brienne, guerreava nas Apúlias pela causa dos nobres e da Igreja. Francisco, como já dissemos, juntou-se a ele. Há sonhos que precisam fazer estrada. Seus pais não o impedem. Ele segue na sua visão e vontade de ter terras, palácios, armaduras, vestes vistosas e uma bela dama por companhia. Francisco sempre partiu atrás, junto e na frente de seus sonhos. Em junho de 1205, morre Gualter de Brienne. Aliando este fato a muitas dúvidas, Francisco interrompe a expedição. É preciso fazer uma nova releitura da experiência. Até que ponto vale a glória humana se não for ancorada em algo maior? Ouviu em sonho uma voz que dizia: “Volta para Assis!” Voltar não foi nenhuma derrota, mas sim realizar espiritualmente o mesmo objetivo que o fez partir. Ele está em Spoleto. Entre suas interrogações a mais célebre: "Senhor que queres que eu faça?”. Voltar e achar o seu lugar é conversão. Há uma manifestação divina e uma tomada de posição humana. Seus sentimentos agora se tornam sentimentos de força espiritual. Com a mesma garra com que cuidou dos negócios de seu pai, vai agora administrar as convocações de sua alma.

13. Da prática comum das coisas de seu meio e vivência como um natural jovem de Assis, passa à prática da fé que o envolve. Nada mudou no seu jeito. Sua fé é viva, simples e nobre. Do gosto que tinha pelas lides do comércio de seu pai, passa ao gosto pela meditação, silêncio, oração recolhida em lugares solitários, e o aumento de sua generosidade para com os pobres. A sua vida vai ampliando sentidos. Tudo isto acontece sem deixar de ser uma batalha interior. A vida de Francisco sempre foi um combate a ser vencido. Não está claro ainda que rumo deve dar à sua vida. Procura a orientação na prece. Há capelas desertas e em ruínas que se transformam em lugar de sua decisão. Revê a sua vida passada. Reza fervorosamente. Pede perdão, reconcilia-se. Quando as coisas ficam claras, seus olhos têm uma nova luz. O impacto que se deu dentro de si, choca os que estão fora. Quem é este Francisco agora?

No alto, cena do filme "Irmão Sol Irmã Lua", quando Francisco se aproxima das ruínas de São Damião

Frei Vitório

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