Francisco de Assis, modelo referencial do humano - IX

Da manjedoura à cruz. O humilde está nos lugares fora do comum considerado normal. Ninguém quer a cruz, somente um Deus abraçou-a pra valer. A vida de Francisco foi ter paixão pela Paixão do Senhor. A admiração é tanta que ele olha para a cruz e não é capaz de proclamar o sofrimento. Entra no sofrimento do Amado que consegue ter brilho nos olhos e cantar. O primeiro contato de Francisco com a cruz foi nas ruínas da capela de São Damião. Um Crucifixo bizantino com o Cristo vivo e de olhos abertos. Diz a Legenda que ali a Cruz falou: “Vai, Francisco! Não vês que a minha casa está em ruínas? Reconstrói a minha  casa!”.

A cruz foi a única coisa que ele encontrou em pé em todo desmoronamento. Ele chegou a São Damião, em 1205, entre dúvidas, enigmas, crises e incompreensões. Diante da cruz, descobre que uma vontade bem trabalhada dá coisa grandiosa. Com ele aprendemos que cruz não é fim, mas, sim, fonte. É preciso encontrar, em meio a ruínas, o nosso chão, ouvir uma inspiração e colocar tudo novamente em pé. De São Damião ao Monte Alverne, onde ele recebe as marcas do Crucificado, o Amor o marca definitivamente. Traz na própria carne as marcas do Iniciado: o Amor tomou forma em seu corpo! Em São Damião, ele contempla e vê o Crucificado; no Alverne, ele entra em sua Carne Sagrada. Cruz não é para ver, mas para entrar dentro do mistério. Por não aguentar isso a tiramos das paredes.

Quando somos capazes de abrir o coração para o sofrimento de alguém, algo começa a falar dentro de nós. Ao abraçar o leproso, ele tem um encontro transformante. Amor pede encontro, pede aproximação, união, pede que se toque os dedos nas chagas. Temos que ser marcados pelo Amor, mesmo nos momentos mais difíceis. Tudo o que aconteceu na vida de Francisco foi de grande intensidade.  Ele, com a as suas chagas iguais a de Cristo, está nos dizendo que também temos que ser estigmatizados.

 Não existe ninguém que não tenha sido marcado pelo Amor sem um mínimo de sofrimento. Não devemos ter medo de abraçar o sofrimento, ele nos leva a outros horizontes. Não se chega ao Monte Alverne para ficar, mas para voltar e dizer a todos que quanto mais alguém vive uma profunda experiência afetiva espiritual, mais se torna presente. Em São Damião, Francisco viu o rosto do Amor; na Porciúncula, lugar da Fraternidade, ele viu o Corpo do Amor; no Monte Alverne, ele viu onde o Amor é capaz de chegar: morrer por amor, se for preciso!

Continua

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