Francisco de Assis, modelo referencial do humano - VIII


A mística de Francisco é seu total envolvimento com Jesus Cristo, o Deus Encarnado. Para ele, Jesus Cristo é o Deus Homem, Servo e Senhor; vai acolhendo Jesus Cristo progressivamente como um Vivente, uma imitação perfeita, uma prática, tornou-se a arte de viver Cristo. O Senhor Jesus e as Palavras de seu Evangelho são o seu vivo itinerário. É o Cristo do Presépio, da Cruz e do Altar.

Sua paixão pela Encarnação fez com que ele representasse, pela primeira vez, na noite de Natal de 1223, no bosque de Greccio, a cena do Nascimento do Senhor. No seu ímpeto místico vê, contempla, refaz. Com esta encenação do presépio, ele quer nos mostrar que entrar na Palavra é entrar na imagem. Ele vê a grandeza e a onipotência de um Deus se revelando na figura de um Menino.

Contempla com profundo afeto o Verbo Encarnado que se fez uma simples criança pobre, por amor. Francisco tem uma relação forte com o Evangelho, ali não está simplesmente um texto, mas Alguém falando. Diz Tomás de Celano: “A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar em tudo e, por tudo, o santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina e imitar e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda vigilância, com todo empenho, com todo desejo, da mente e com todo fervor do coração.

Recordava-se em assídua meditação das palavras e, com penetrante consideração, rememorava as obras dele. Principalmente a humildade da encarnação e a caridade da paixão, de tal modo ocupavam a sua memória que mal queria pensar outra coisa. Deve-se, por isso, recordar e cultivar em reverente memória o que ele fez no dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo (...) Lembrar o Menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima as palha, entre o boi e o burro”.

Representar ao vivo a narração evangélica é ir para dentro da paisagem do mistério da Encarnação. É algo intensamente forte e vivo: “Muitas vezes, quando queria chamar o Cristo de Jesus, chamava-o também, com muito amor, de Menino de Belém, e pronunciava a palavra “Belém” como o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz, mais ainda com doce afeição. Também estalava a língua quando falava “Menino de Belém!” ou “Jesus”, saboreava a doçura dessas palavras”  .  “Francisco sabe que o caminho da Encarnação é um caminho de contradição. Mas sabe que é o único. Daí aquele cena extraordinária em Greccio. Ele quer evocar os incômodos e sofrimentos que Jesus sofreu, desde a infância, para nos salvar. Deus veio pobre entre os pobres” .

Continua

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