REFLEXÕES SOBRE A DIMENSÃO POLÍTICA DO FRANCISCANISMO - 4


Não basta estudar teologia; é preciso ser teólogo


Francisco de Assis transformou a fé num ato profundamente humano. Mostra a essência do Evangelho: ter fé é humanizar a vida. O único e verdadeiro conhecimento de Deus é o que está na Boa Nova, um Deus que sabe amar, que leva a amar, que convive entre atos concretos de amor. Francisco é um grande teólogo, embora não tenha estudado na UCP, Universidade Católica de Perugia, porque intui que não basta conhecer ou estudar teologia, é preciso ser teólogo.

O verdadeiro teólogo é aquele que desce com tal profundidade no cotidiano que começa a ver Deus em tudo. Ele foi considerado um Renovador Eclesial, mas isto não é tão excepcional assim, embora o jeito conservador não aceite, a Igreja sempre viveu de muita renovação. E de onde vem esta renovação? Porque há momentos que ela sai do circunscrito mundo de seus líderes e pessoas com carismas próprios e vai ao carisma do povo.

Francisco, ao ir ao povo com a força do Evangelho, faz uma volta às origens da História da Salvação. Porque a Palavra narra o que existiu antes da Palavra: um amor misericordioso de Deus e a vida do povo. Ler  e estar  na história sob o filtro do Evangelho, viver o Evangelho que estava na história, uma história que foi celebrada, rezada, virou culto, fraternidade, comunidade, memória dos fatos e espelho da Palavra de Deus. Francisco de Assis, com seu jeito, fez uma releitura bíblica reconstruindo lugares eclesiais e sociais.

As muitas guerras de seu tempo, o confronto entre nobres e plebeus, o conflito entre imperadores e papas, as Cruzadas, a estratificação social que dividiam maiores e menores, novos ricos e cidadãos em geral, camponeses, pobres, doentes e miseráveis, também gerou realidade de fome, de empobrecimento, de exploração e morte. Isto não deixou Francisco indiferente. O seu modo de viver o Evangelho em meio a tudo isto não é só uma pregação, mas um grito de alerta.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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