ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA - Alguns Apontamentos - XII



59. Existe um risco da institucionalização do carisma. Ele não é apenas um produto cultural religioso que nasceu dentro de um momento histórico que precisava de seu sentido. O carisma é a própria vontade explícita de Jesus para que se concretize o Evangelho! São Tomás de Aquino diz que não era próprio de Jesus fazer votos porque era Deus, mesmo tendo-se encarnado como homem, seus olhos estavam fixos só no bem. Os que o seguiram fizeram votos naturalmente a partir do momento que entraram num estado de perfeição no seguimento de Jesus. Por causa dele deixaram tudo e moldaram um outro modo exigente de um Amor exigente. Aí nasce a Vida Religiosa Consagrada: direto do seguimento e imitação da proposta do Mestre. É direto e divino, não de origem da eclesiologia. Os Apóstolos são modelos de vida religiosa e identidade religiosa.

60. O Concílio Vaticano II traz ideias essenciais para a Vida Religiosa Consagrada. Coloca a centralidade desta vida no Evangelho. O documento Lumen Gentium (40 e 43) diz que a Vida Religiosa Consagrada se inspira no Evangelho. O documento Perfectae Caritatis (2a) diz que se atualiza no Evangelho. O Concílio Vaticano II realça a Vida Religiosa Consagrada como a santidade cristã levada a um caminho de perfeição. Um modelo e fonte inspiradora de cada forma de vida cristã. Unidade. Radicalidade. Globalidade. O chamado é para todos. A pluriformidade dos diversos Carismas corresponde a modos diversos de viver uma única vocação cristã. O Evangelho é uma referência global. Não insiste sobre um determinado texto do Evangelho, porque o fundamento da Vida Religiosa Consagrada não está neste ou naquele texto específico do Evangelho, mas no conteúdo global da boa nova. A radicalidade vem da exigência de dar continuidade ao projeto de Jesus: implantar o Reino de Deus no mundo. É não estar nem além, nem na periferia da vida cristã, mas imerso dentro dela. Para isto é preciso renunciar, deixar tudo e seguir. É usar o Carisma para o bem da Igreja e do mundo. Nenhuma instituição pode por si só garantir a perfeição, mas sim a vivência apaixonada da vida cristã pode mudar o modo de estar no mundo.

61. A Vida Religiosa Consagrada não é uma consagração específica do batismo, mas é uma consagração madura e consciente da consagração iniciada no batismo. Testemunhar e mostrar que a vida cristã é um chamado universal, a convocação à perfeição cristã é para todos os fiéis, de qualquer estado, grau, gênero e condição de vida. Todos são chamados por Deus, mas alguns se identificam mais com determinado Carisma. Um Carisma bem vivido é um modo heroico de viver a perfeição cristã. Cada um escolhe um caminho indicado por uma inspiração (Gaudium et Spes, 58). Não existe monopólio ou exclusivismo no caminho da vida cristã. Ninguém tem a fórmula melhor para a santidade. Não existem categorias de fiéis diferentes, porque um Carisma não pode reconhecer ou escolher uma determinada classe. O que une todos os Carismas é identificar-se com o modo de Amar e o dinamismo das práticas de Amor. Todos os cristãos são chamados à plenitude do Amor, mas um Carisma específico pode organizar a força deste Amor. O Amor é tudo e tem um valor absoluto e essencial. O Carisma vive em função de transformar este Amor numa grande prática. É um empenho cristão com jeito próprio mas concretiza o que diz o documento Lumen Gentium, 42: “Toda virtude é a ordem do Amor”.

Continua

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