São Luís de França e os Franciscanos - X
Frei Sandro Roberto da
Costa, ofm
2.2.1 Sua devoção à
Paixão
A posse de relíquias era prática comum na Idade Média.
Devoção, prestígio, necessidade de proteção eram elementos que se misturavam na
procura por relíquias cada vez mais preciosas. Luís tinha um apreço especial
pelas relíquias da paixão de Jesus. Prova disso é um acontecimento envolvendo a
relíquia do cravo de Jesus. Em 1232, quando a relíquia foi exposta para
veneração dos fiéis na catedral de Saint Denis, acabou caindo do relicário e desapareceu.
Seguiu-se uma comoção em todo o reino. Guilherme de Nagis relata o sentimento
do rei e sua mãe: “O santo rei Luís e a rainha sua mãe, quando souberam da
perda desse altíssimo tesouro e o que tinha acontecido ao santo cravo sob seu
reinado, sentiram grande dor e disseram que notícia mais cruel não podia ter
sido levada a eles nem lhes fizesse sofrer mais cruelmente”[33].
Esta devoção era testemunhada publicamente na Sexta-Feira Santa: “A sua devoção
à Cruz, especialmente na Sexta-Feira Santa, tem como momento forte a visita das
igrejas ‘próximas do lugar onde se encontrava’: ia lá ‘descalço’, e depois,
para a adoração da cruz, tirava o chapéu e a touca e avançava, de cabeça
descoberta de joelhos, até à cruz, ‘beijava-a’, e por fim ‘punha-se inclinado
para o chão com os braços abertos, como na cruz, durante todo o tempo em que a
beijava, e diz-se que enquanto fazia isto chorava’”[34].
Nada, porém, supera o esforço para conseguir duas das
relíquias mais preciosas para a cristandade: a coroa de espinhos de Jesus e o
lenho da Santa Cruz. Luís adquire a coroa do Imperador de Constantinopla,
Balduíno. Quando a coroa entra em território francês, em 1239, depois de uma
longa viagem desde Constantinopla, o rei e seus irmãos vão ao seu encontro.
Carregam o relicário às costas, em procissão, vestidos de túnica branca e
descalços, em sinal de humildade e penitência. Os nobres também se associam aos
príncipes, participando descalços da procissão. Seguem-se a aquisição do lenho
da Cruz e de outras relíquias da Paixão, como a esponja e o ferro da santa
lança. Para guardar as relíquias, Luís construiu um dos maiores tesouros da
arte gótica: a Saint-Chapelle, capela privada do rei. A estas relíquias
preciosas soma-se o travesseiro de São Francisco, enviado ao rei pelos frades
de Assis, quando de sua coroação, em 1226.
O movimento cruzado tem sua legitimação nesta devoção às
relíquias: as terras onde Cristo nasceu, viveu e morreu, estão em mãos infiéis,
de pecadores. Jerusalém, a maior relíquia da
cristandade, precisa ser libertada.
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