A MÍSTICA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 27


A MÍSTICA DA ENCARNAÇÃO

Sem encarnação não há comunicação

Para celebrar o Natal é preciso recriar uma atmosfera Sagrada. Celebrar o Natal implica mais do que orar e refletir. Importa abrir o coração e se alegrar. Podemos pensar diante de uma Criança? Podemos fazer doutrinas diante de uma vida que se abre como uma flor? Não pode haver indiferença, quando, de repente, a vida se ilumina! Para celebrar é preciso exorcizar o medo que inibe. Deus não vem para julgar ou condenar. Ele nasce criancinha, seu choro é de criança e não afugenta ninguém.

Ele não veio armado para punir. Ele está aí, na fragilidade de um Menino, para ficar bem junto à nós e nos libertar. Celebrar a chegada de um amigo! Cabe a cada um e a cada uma criar a festividade da Festa, fazer silêncio no coração, preparar a alma, reconciliar todas as coisas. Só assim a festa se deixa saborear. Deus se fez Humano e veio morar na nossa Casa! Este é o motivo que temos para celebrar!

O Natal revela o projeto que Deus se propusera a si mesmo: Deus quis se comunicar de forma completa a um outro ser diferente d’Ele!

Dignou-se a dar-se de presente a alguém! Deus não quis ficar unicamente Deus. O Criador fez-se também criatura. Não quis só comunicar somente seu Bem, sua Verdade, sua Beleza... Ele nos presenteou também com isso. Por isso, sempre quando amamos o Bem, pensamos a Verdade e apreciamos a Beleza... estamos apreciando, pensando e amando Deus.

Deus quis dar-se! Para isso é preciso existir alguém diferente que o possa receber. Esse alguém somos nós... e entre nós o olhar divino repousou sobre Jesus de Nazaré. Nele Deus será absoluta Comunicação, Encarnação e Presença! Ser humano só tem sentido se for para ser receptáculo do Divino. É como um copo, só tem sentido se receber um líquido precioso, pois foi feito para isso. Em Jesus de Nazaré, o humano encontra sentido e realização plena da sua existência, pensada, querida e criada para hospedar Deus. Quando nos doamos a alguém estamos comunicando a Encarnação Divina.

Deus comunicou-se a uma Mulher. Bateu mansamente em sua porta. Pediu morada. A Mulher disse que Sim. Porque havia lugar para ele em sua hospedagem. O Amor se fez Carne e veio morar aqui. E assim a vida divina começou a crescer no mundo. Deus nasceu! "Senhor, mostra-nos teu rosto!" E ele mostrou-se assim como é: permaneceu o Deus que sempre era, assumindo o Humano que nem sempre era. Deus não ficou indecifrável. Não ficou na sua onipotência eterna, ele veio morar na fragilidade da criatura.

Não atraiu para dentro de si a humanidade, mas ele se deixou atrair para dentro da humanidade. "Passei por Belém de Judá e ouvi um sussurro terno. Era a voz de Maria embalando o filhinho: Sol, meu filho, como vou cobrir-te de panos? Como vou ver-te nas minhas mãos, tu que conténs todas as coisas?"
E José, perplexo, exclamava: “Como pode? Como pode ter forma de criança Aquele que deu forma a todos os seres? Como pode fazer-se pequeno na terra, Aquele que é grande no céu? Como pode este estábulo conter Aquele que contém todo o universo? Como pode seus bracinhos estarem envoltos em panos, se seu braço governa a terra e o céu? Como pode?”

Deus se abaixa, se faz mundo, se torna humano. Pequeno é o nosso Deus. Infinito é seu Amor! Aproximou-se de nós, não temeu a matéria, não receou acolher a condição humana, por vezes trágica e absurda. Quem poderia imaginar que um Deus se fizesse assim?

   A ninguém é desconhecida a condição humana. Apesar de sua bondade fundamental, o humano não deixa de ter seus fracassos. Ele pode ser um lobo para o outro, uma máquina autodestruidora para consigo mesmo.

Continua

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