A MÍSTICA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 26


A MÍSTICA DA ENCARNAÇÃO

Sem encarnação não há comunicação

                    "Uma noite tão deliciosa para os homens como para os animais", conta Tomás de Celano (1 Cel 85). Francisco passa a vigília de pé diante do presépio, comovido e alegre. Experimenta naquela noite, um momento de êxtase.

    Mas o que via? Não era apenas uma cena maravilhosa. Contemplava o mistério do Natal em sua profundidade. Via toda criação unida com Deus num mistério profundo. Queria tudo o que existia, tudo o que vivia para este instante único, para esta comunhão com a vida divina no Deus Menino. O divino não devia ser buscado fora da fragilidade humana e de suas raízes, fora da criação material. NO DEUS MENINO TUDO SE ENCONTRAVA! E o que estava oculto se tornava visível. O sentido do mundo se tornava bem claro. A unidade da criação se revelava. Era uma Epifania de Luz. Não se podia acolher o divino sem respeitar toda a vida: a vida humana, é claro, mas também as mais humildes formas de vida. Não se podia comungar com a vida divina sem confraternizar com toda a vida, com toda criatura, com toda criação!

O caminho desta comunhão e desta fraternidade era o presépio, a humildade original que nos aproxima das mais humildes criaturas, aquela proximidade e doçura que nos fazem reintegrar o vasto círculo da criação. As criaturas todas se tornaram o berço divino. Só podia aproximar-se do Menino quem entrasse no presépio, e se fizesse bem próximo das criaturas mais humildes. É o respeito por toda a vida, por mais humilde que seja, Francisco quando se aproxima, faz acordar um bebê que representava ao vivo o Menino. Isto simboliza o nascimento oculto de Deus nas profundezas da alma.

Eis o Natal e seu Universo de Símbolos! A vela, as estrelas, as bolas coloridas, o pinheirinho, o presépio, os animais, os pastores, José, Maria, o Menino repousando sobre palhas.

   O presépio é a expressão sensível de uma aproximação interna de Deus por caminhos de humildade e de reconciliação: por Caminhos da Encarnação! É a inserção natural. A matriz cósmica de Deus para nascer no humano e ter necessidade do humano. O Menino Deus nasce em toda parte onde há seres humanos bastante humildes para se reconhecerem irmãos e irmãs uns dos outros e de toda criatura.

É assim que visualizamos o evento maior da nossa história: a Encarnação de Deus! Estes símbolos nascem do real, da fé e falam ao coração de um modo muito direto. Hoje, estes símbolos foram capturados pelo comércio e apelam para o nosso bolso. Mas apesar de toda profanização, o Natal ainda guarda algo inviolável, guarda aquela sacralidade que é própria da vida. Toda vida é sagrada e remete para um mistério sacrossanto. Todo atentado contra a vida é um atentado contra Deus.

Na vida do Menino a fé celebra a manifestação da própria vida e a comunicação do próprio mistério. Isso não se perdeu na nossa sociedade secularizada. O Natal é mais rico do que todos os mecanismos de consumo.

Continua

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