A MÍSTICA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 20

A MÍSTICA DA UNIÃO CÓSMICA – O Cântico das Criaturas

Para São Francisco, todas as criaturas, como diz o hino, são o lugar da revelação do Altíssimo. O mundo material tem valor. Não perde sua dignidade, embora o Altíssimo exceda infinitamente. Ele não quer cantar sozinho. Canta com as criaturas. Aqui se vê o espírito não possessivo de São Francisco. Não é ele que canta pelas e através das criaturas. Elas já cantam por si só. Ele se une a elas no cantar e louvar. Irmana-se e confraterniza-se. Como diz Celano, “nunca se viu tanto afeto para com todas as criaturas” (88). E continua: “Todas as criaturas eram chamadas de irmãos e irmãs. De maneira extraordinária e inusitada sabia, com intuição penetrante de seu coração, compreender os segredos das criaturas, porque ele havia reconquistado a gloriosa liberdade dos filhos de Deus”(90).

Na literatura provençal, a qual Francisco admirava, descobria a canção do encantamento pela dama e a efusão emotiva do amor. Francisco soube depurar essa corrente que o influenciou tanto, de todo o peso, de toda a ligação nervosa com a terra e com a Dama, para conservar-lhe o ritmo essencial que incluía a canção até a morte e o sofrimento. Sua relação profundamente humana com Clara, mostra a maravilha como ele integrou o feminino e o encantamento do amor. O eros foi libertado de todo o peso e transformado em ágape, sem perder toda sua profundidade psicológica. Isso nos ajuda a compreender a expressão cantar com todas as criaturas. O cantar “com grande humildade” mostra a superação de todo o ressentimento contra nossa arqueologia. Une-se com o cosmos, com o mais baixo até o mais alto, para juntos cantarem o Inefável.

Imagem: Francisco e Clara, de Giotto

Continua

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