A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA – 11



O ESPELHO DE CLARA

Em seus escritos, Clara usa o termo espelho 12 vezes, sempre em referência ao modo de amar o Amado. Não são textos jurídicos, mas com forte ressonância afetiva-espiritual. Vamos elencar aqui estes textos:

“Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma no esplendor da glória. Ponha o coração na figura da substância divina e transforme-se inteira, pela contemplação, na imagem da divindade” (3CIn 12-13)

“Feliz, decerto, é você que pode participar desse banquete sagrado para unir-se com todas as fibras do coração àquele cuja beleza todos os batalhões bem-aventurados dos céus admiram sem cessar, cuja afeição apaixona, cuja contemplação restaura, cuja bondade nos sacia, cuja suavidade preenche, cuja lembrança ilumina suavemente, cujo perfume dará vida aos mortos, cuja visão gloriosa tornará felizes todos os cidadãos da celeste Jerusalém, pois é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o espelho sem mancha.

Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente vestida e cingida de variedade, ornada também com as flores e roupas das virtudes todas, ó filha e esposa caríssima do sumo Rei. Pois nesse espelho resplandecem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, como, nele inteiro, você vai poder contemplar com a graça de Deus.

Preste atenção, no princípio, à pobreza deste espelho posto no presépio e envolto em panos. Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos anjos repousa numa manjedoura. No meio do espelho, considere a humildade, ou pelo menos a bem-aventurada pobreza, as fadigas sem conta e as penas que suportou pela redenção do gênero humano. E, no fim desse mesmo espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa.

Assim posto no lenho da cruz, o próprio espelho advertia quem passava para o que deviam considerar: ó vós que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor igual a minha! ”(4CIn 9-25).

“Pois o próprio Senhor colocou-nos não só como modelo, exemplo e espelho para os outros, mas também para nossas Irmãs, que ele vai chamar para a nossa vocação, para que também elas sejam espelhos e exemplo para os que vivem no mundo. Portanto, se o Senhor nos chamou a coisas tão elevadas que em nós possam espelhar-se as que deverão ser exemplo e espelho para os outros, estamos bem obrigadas a bendizer e louvar a Deus, dando força ainda maior umas às outras para fazer o bem no Senhor” (TestC 19-22).

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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