Francisco de Assis, modelo referencial do humano – XVI



Como Francisco aparece nesta verdade? Ele tem bilhete de entrada em todas as culturas e em todas as religiões porque é alguém reconciliado com a vida, com as pessoas, com o verme da estrada, e apaixonado a ponto de transformar o seu Deus na Senhora Dama Pobreza e casar com este projeto. Ele é um santo que viveu tão intensamente o seu tempo que atravessou épocas. Reconstrói a casa da existência calejando as mãos erguendo as ruínas de São Damião. Deu um sentido fraterno e coletivo à existência. Integra todos os significados e símbolos. Há algo de sadio em suas sandálias, hábito, cordão, Tau, cruz, Porciúncula, estigmas e aquele jeito de dizer as criaturas. Porque aprendeu que orar nos bosques pode ir melhor ao Papa. Pregou aos pássaros e praças cheias de gente. Conheceu as dores morais e materiais dos desfavorecidos. Sua escolha religiosa tinha uma missão: melhorar a humanidade a partir do protótipo do humano divinizado, Jesus Cristo! A partir daí foi ao mundo do ocidente e do oriente pregando a paz e o bem. Não foi às Cruzadas para dialogar com espada e lança. Foi para procurar pacificar com o escudo da fé. Quem vive bem Santa Maria dos Anjos pode ser bem recebido na tenda do sultão. É um itinerante com coração de monge, um fundador de uma Ordem com o hábito de camponês, um cantor do Irmão Sol e das glórias do Altíssimo. Um dia saiu de Assis e foi a Damieta, no Egito; passou pelas fileiras dos Cruzados em campo de batalha e foi conversar com Melek-el-Kamil:

“E o sultão, vendo no homem de Deus o admirável fervor de espírito e a virtude, ouvi-o com prazer e convidava-o com insistência a morar com ele”. 
“Não somente os féis de Cristo, mas também os sarracenos (...), admirando-lhes a humildade e perfeição, quando por causa da pregação se aproximam deles intrepidamente, recebem-nos com boa vontade, providenciando as coisas necessárias com ânimo grato. Vimos que o primeiro fundador e mestre desta Ordem - a quem  todos os outros obedecem como a seu prior gera -, homem simples e iletrado, amado por Deus e pelos homens, chamado Frei Francisco, foi levado a tal excesso de ebriedade e fervor de espírito que, quando chegou ao exército dos cristãos diante de Damieta, na terra do Egito, dirigiu-se intrépido e munido com o escudo da fé ao acampamento do sultão do Egito. Como o tivessem detido no caminho, disse: “Sou cristão, conduzi-me ao vosso senhor”. (...) Os sarracenos ouvem de bom grado os mencionados frades menores todo o tempo que pregam a fé em Cristo e a doutrina evangélica, enquanto não contradizem manifestadamente com sua pregação a Maomé”. 

Continua

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