A NOVA VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, DE TOMÁS DE CELANO - VI
DESCOBERTA POR JACQUES DALARUN
De alguns milagres que ele operou em vida
“Francisco, o santo de Deus, brilhando com a luz dos milagres, teve a graça de operar curas, das quais, forçosamente, inserimos aqui apenas um pequeno número, pois esperamos narrá-los mais demoradamente em outra obra”.
“O bem-aventurado Francisco, indo até ele, fez sobre ele o sinal da cruz, ao longo de todo o seu corpo, da cabeça aos pés, e rapidamente afugentou toda doença e devolveu-lhe a saúde de antigamente”.
“Como uma mulher da mesma cidade estava acometida de cegueira, o bem-aventurado Francisco fez o sinal da cruz sobre seus olhos e, rapidamente, a luz lhe foi devolvida”.
“O servidor do Cristo realizava esses e outros milagres parecidos com sua presença corporal, mas – o que é mais admirável – o Senhor socorria diversos problemas dos homens através dos objetos que Francisco havia tocado com suas mãos”.
“Gualfreduccio de Città della Pieve, homem religioso e temente a Deus, tinha em sua casa um cordão que o bem-aventurado Francisco usara certa vez como cinto. Aconteceu que, nessa cidade, um grande número de homens e não poucas mulheres foram acometidos de diversas doenças e febres. O dito homem, circulando nas casas dos doentes e misturando um pouco das fibras deste cordão à água, dava de beber aos pacientes e assim, através da virtude de Deus, uma perfeita saúde lhes era devolvida ao absorverem a água”.
Como ele livrou marinheiros dos perigos do mar multiplicando os víveres; e como, indo à Espanha por desejar o martírio, ele acabou encontrando o Sultão da Babilônia.
(...) “Assim, aconteceu que, quando os marinheiros consumiram toda a comida, devido a uma longa tempestade que atravessaram no mar, os mantimentos do pobre Francisco, pela ação divina, multiplicaram-se tanto que, durante muitos dias, eles satisfizeram às necessidades de todos até o porto de Ancona. Também, vendo que tinham escapado do perigo de morte graças ao servidor de Deus, os marinheiros renderam graças à clemência do Salvador”
“Deixando o mar, o servidor de Deus perambulou por terra; arando-a com a palavra, ele semeou a semente da vida, recolheu o fruto das almas em grande número e elas o seguiram com grande devoção”.
“Quando retornou à igreja de Santa Maria de Porciúncula, homens letrados e nobres entraram na Ordem. Tratou-os com honra e dignidade, e como era dotado de um discernimento excepcional, deu a cada um o que lhe cabia”.
“Enquanto viveu, ensinou toda a sua família a seguir o Cristo e não transgrediu em absolutamente nada a observância da Regra e da perfeição evangélica”.
Como, rezando em lugares desertos, ele lutou com o diabo; de sua constância e maneira de pregar; de sua humildade e compaixão pelos pobres.
“Tornou-se insensível a tudo o que fizesse barulho do lado de fora e, contendo com todas as suas forças seus sentidos exteriores, entregou-se apenas a Deus”.
“Seu porto mais seguro era a oração, a que sempre se dedicava, mesmo quando o corpo se ocupava com qualquer outra coisa. Passava a noite a rezar nas igrejas situadas em lugares desertos, nas quais seguidamente superava inúmeros medos e angústias que o diabo lhe infligia”.
“Plenamente formado em exercícios espirituais desse gênero, desenvolveu uma grande constância e, irrigado pelo fluxo da doutrina celeste, encontrava segurança no fato de pregar com pureza de espírito”.
“Ele era dotado de tão grande eloquência que tornava contemplativo o espírito dos que o ouviam. Ele falava com a mesma constância de espírito tanto para muitos quanto para poucos”.
(...) “o camponês lhe disse: “Aplica-te, frade, a ser tal como os homens proclamam que és, pois muitos têm confiança em ti. Exorto-te a nunca seres outra coisa que não o que esperamos de ti”. Ouvindo isso, o santo de Deus desceu do burro e, prostrado diante do camponês, beijou seus pés, rendendo-lhe graça por ter a dignidade de o admoestar”.
“Ele era muito humilde, conformando-se em tudo com os pobres. A túnica com a qual estava vestido, que frequentemente dividia com eles e usava tal qual os pobres, era seguidamente remendada não com fios, mas com casas de árvores ou de planta. Nos grandes invernos, pedia roupas aos ricos e recebendo-as sem ter que devolvê-las, ele as oferecia aos primeiros pobres que encontrasse pelo caminho”.
“Na verdade, o amante da virtude adoçou o palácio do corpo. Por isso, era doloroso ver que alguma reprovação era dirigida a qualquer um dos pobres”.
De sua afeição pelas criaturas por causa do criador; de sua reverência pelo nome do Senhor; do presépio durante a celebração e de sua visão.
“O homem de Deus transbordava de espírito de caridade, com as entranhas cheias de piedade não apenas pelos homens, mas também pelos animais mudos e selvagens, e por todas as outras criaturas. Com que afeição pensas tu que ele amava as pequenas ovelhas e os cordeirinhos, que têm a graça de uma natureza mais simples e da semelhança com o Senhor Jesus, que eles representam nas santas Escrituras? Frequentemente, libertava esses animais das mãos daqueles que desejavam matá-los e, pagando o preço para que não fossem imolados, devolvia-os à vida. O preço não era uma dificuldade, pois ele considerava como a coisa mais vil aquilo pelo qual os homens mais têm consideração”.
“Quem pode dizer a doçura de que ele gozava ao contemplar nas criaturas a sabedoria do Criador, seu poder e sua bondade? Ficava cheio de uma maravilhosa e inefável alegria quando olhava para o sol e a lua as estrelas e o firmamento. Indiscutivelmente, ele pregava às flores, às florestas, aos troncos e às pedras como se elas gozassem de razão. As colheitas e as vinhas, tudo o que fazia a beleza dos campos, a água corrente das fontes, o verdume dos jardins, a terra e o fogo, o ar e o vento: ele os encorajava, com sua extrema pureza, a amar a Deus, ele os exortava a servi-Lo com prazer. Enfim, ele chamava todas as criaturas pelo nome de irmão em razão de seu princípio único”.
“Acima de tudo, ele ardia por representar aquelas que se referem ao Cristo nos volumes sagrados dos Evangelhos, em razão do grande amor que fervilhava dentro dele”.
“Ele proferiu palavras doces como o mel sobre o nascimento do pobre Rei e sobre a pequena cidade de Belém. Desejando chamar Jesus, em razão do amor extremo que ardia dentro dele, chamou balbuciando “ a criança de Belém”.
CONTINUA
FREI VITORIO MAZZUCO
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