A NOVA VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, DE TOMÁS DE CELANO - V

 



DESCOBERTA POR JACQUES DALARUN 

Como ele apareceu transfigurado. Como mostrou milagrosamente sua presença aos ausentes e conheceu os segredos dos corações dos outros.

“Com sua presença, o abençoado pai consolava docemente seus filhos; em sua ausência, não deixava de confortá-los também. Certa noite em que se ausentara corporalmente dos frades, por volta da meia-noite, quando alguns frades descansavam e outros oravam, uma carruagem de fogo entrou pela pequena porta da casa e rodopiou várias vezes até parar; acima dela uma luz muito forte em forma de globo, que parecia o sol, iluminou as trevas da noite. Estupefatos e aterrorizados ao extremo, os frades começaram a se perguntar o que seria aquilo. Mas, como por graça de tamanha luz, a consciência de um desnudou-se ao outro, eles compreenderam que era a alma do dulcíssimo pai que, em razão da graça de sua excepcional pureza e dos cuidados de sua grande piedade por seus filhos, merecera obter do Senhor a bênção de um presente como esse”.

Da observância da pobreza e da abstinência em sua vida; do que ele fazia para se mostrar o mais vil de todos; da devoção que as pessoas sentiam por ele e como ele ensinava a honrar os padres e os doutores da lei divina.

“Perscrutando os atos dos frades por meio de um exame cuidadoso e atento, ele não deixava nada impune, erguendo o ferro de sua correção contra aqueles que agiam de modo duvidoso!”

“A terra nua, com uma simples túnica entre ela e ele, era seu leito e, seguidamente, ele dormia sentado, sem se deitar, com um tronco ou uma pedra para sustentar a cabeça”.

“As pessoas ofereciam-lhe pães para abençoar e, conservando esses pães por muito tempo, eram curadas de diversas doenças ao comê-los”.

“Ele fugia da admiração de todas as maneiras possíveis para não incorrer em vaidade”.

Como ele pregou aos pássaros, como as bestas selvagens se refugiavam perto dele e obedeciam-lhe e como a água se transformou em vinho.

“Este homem mereceu chegar ao topo da perfeição quando, pleno da simplicidade de uma pomba, soube por experiência que os pássaros, as bestas selvagens e os peixes obedeciam-lhe frequentemente”

“Numa época, de fato, em que rumava para o vale de Espoleto, ele se dirigiu a um lugar, perto de Bevagna, onde estava reunida uma grande multidão de pássaros de diversas espécies. Quando o santo de Deus os viu, e porque amava todas as criaturas em razão do amor que sentia acima de tudo pelo que o Criador criou, ele correu para esse lugar com alegria e saudou aos pássaros com seu modo habitual, como se eles o compreendessem. Como os pássaros não voavam, cheio de admiração ele avançou até ele. Indo e vindo entre eles, ele tocava com sua túnica suas cabeças e seus corpos. Durante esse tempo, pleno de alegria e admiração, ele exortou os pássaros a ouvir atentamente a palavra de Deus, dizendo: “Meus irmãos pássaros, deveis louvar muito vosso Criador e sempre amá-lo, ele que vos deu penugem e penas para voar;  ele que, dentre todas as criaturas, vos fez livres e vos deu a pureza do ar. Vós não semeais nem colheis e ele vos governa sem que percebeis” Diante dessas palavras, exultando fortemente à sua maneira, os pássaros começaram a esticar o pescoço, bater as assas, abrir o bico e olhar para ele”.

“É verdadeiramente um santo aquele a quem as criaturas assim obedecem e sob cuja ordem os próprios elementos mudam de uso”.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO





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