VALDENSES E HUMILHADOS - OS MOVIMENTOS PENITENCIAIS E SUAS CARACTERÍSTICAS - 7



Continuando o tema anterior, resumir a vida de alguns personagens e seus movimentos que desencadearam uma gama de influências: Pedro Valdo e os Valdenses. Defendiam a ortodoxia da fé. Pedro Valdo era um rico comerciante de Lion, França, e converteu-se inspirado na vida de Santo Aleixo, sobretudo na convocação: “Se queres ser perfeito”. Deixa tudo e vai seguir uma pobreza absoluta vivendo essencialmente os valores do Evangelho. Os Textos Sagrados eram em latim, a língua oficial do império romano e da Igreja, Valdo traduz 1.170, para o romanzo, língua popular dominada pelo povo. Cativou a todos pela pregação e por terem acesso à Palavra de um modo mais simples, e também pela mendicidade.

Por ser um leigo, Pedro Valdo sofreu a oposição da hierarquia, sobretudo do Bispo de Lion que o proibiu de pregar e mendigar. Em 1179, Pedro Valdo apresenta-se ao Papa Alexandre III no III Concílio de Latrão. Uma crônica da época diz: “Examinada a sua ortodoxia o Papa o admitiu em sua presença e ficou maravilhado quando viu ele e seus companheiros, descalços, vestidos de lã, sem bagagem, tendo tudo em comum como os apóstolos e seguindo nus o Cristo nu”. Foi aprovada a liberdade de viver a pobreza, mas não a liberdade de pregação, que devia ser controlada pelos bispos. Em 1180, num sínodo diocesano de Lion, ele é obrigado a provar publicamente a sua ortodoxia. Ele faz um resumo da fé católica e destaca: “Como, segundo o apóstolo Tiago, a fé “sem obras é morta” (Tg 2,17), renunciamos ao século, distribuindo nossos bens aos pobres como aconselhou o Senhor e decidimos ser pobres no sentido de não nos preocuparmos com o dia de amanhã e de não aceitar de ninguém nem ouro, nem prata, nem coisa alguma a não ser a comida e a roupa para cada dia. É nosso propósito observar como preceitos também os conselhos evangélicos”.

Com esta profissão, Valdo recebe a aprovação de sua vita apostólica, com a pobreza absoluta, mendicância e pregação itinerante com a autorização do bispo local caso o próprio bispo fizesse o pedido. Os Valdenses nem sempre obedeceram esta regra de pedir a licença da autoridade eclesiástica para a pregação. Por isso foram excomungados e expulsos da diocese de Lion pelo arcebispo João de Poitiers. Os Valdenses foram para regiões menos rígidas. Pregaram contra os cátaros e se uniram aos Arnaldistas e Humilhados. Portanto, a partir de 1182, passam a viver em meio aos hereges. Foram condenados definitivamente pelo Concílio de Verona, em 1184.

Os Humilhados (1170- 1178) queriam ser um movimento evangélico de perfeita vida cristã, que nasceu entre os trabalhadores de lã nos subúrbios das cidades da Lombardia, norte da Itália, que viviam às margens da influência feudal das cidades, vítimas de um surgente capitalismo industrial e comercial. Os Humilhados se identificam como uma associação leiga com finalidade religiosa e social, vivem em suas famílias, tomam parte dos trabalhos, usavam roupas brutas sem o luxo dos panos finos e coloridos; não podem falar mentiras e não são adeptos das fraudes que corrompem a moral, a religião, a história e o comércio; negam a feudalidade, não fazem juramentos e não apoiam as corporações. São fortes na ascese, na pregação e na discussão pública com todos os grupos, heréticos ou não. Por não obedeceram quanto à licença para a pregação, também foram condenados pelo Concílio de Verona. Viveram uma espécie de cisma e cometeram erros dogmáticos, criaram uma espécie de três ordens separadas entre si. A primeira ordem segundo as normas canônicas com monges, uma segunda ordem com monjas consagradas solenemente à vida religiosa e uma associação de vida monástica leiga e operária. Viviam com o trabalho das próprias mãos.

Curiosamente, os Humilhados aceitaram bem a política inovadora do grande Papa Inocêncio III, eleito em 1208, que aprovou estas três ordens e os autorizou a fazer pregação moral contra os hereges. Os Humilhados ajudaram muito os municípios a promover a indústria local e orientavam a independência econômica dos cidadãos; alguns ganharam até cargos públicos na administração municipal. Possuíam obras sociais mantidas pelo próprio trabalho, sobretudo hospitais e leprosários. Os franciscanos que começaram muito próximo a eles, junto com os Humilhados ganharam a simpatia do povo. No século XIV entraram em declínio e foram suspensos pelo Papa Pio V em 1569.

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Foto: Em 2015, na cidade de Turim, o Papa Francisco pediu desculpas à Igreja Valdense.

Continua

FREI VITORIO MAZZUCO

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