Raízes de um movimento penitencial - 1
A identidade franciscana é uma identidade penitencial
A identidade franciscana é uma identidade penitencial. Todos podemos dizer como os primeiros frades: somos penitentes e viemos de Assis! O Movimento Penitencial inspirou os passos de Francisco de Assis e seus Companheiros primitivos. Penitência não tem conotação de purgação, mas de reconstrução. Há uma dimensão reformadora. Os penitentes não eram contra a ortodoxia, queriam apenas retomar um caminho apostólico mais genuíno, mais próximo da Igreja primitiva. Não era retrocesso, mas um processo de regar uma raiz para que produzisse novos frutos. É um fenômeno laical que não queria criar um confronto com a hierarquia eclesiástica, mas sim viver de modo original a originalidade do Evangelho. É verdade que quando o novo e o autêntico de revela, incomoda bastante e por isso mesmo, por não ser aceito e compreendido, o movimento penitencial experimentou a marca da heresia. Assumiram a pregação, mas não transformaram o Evangelho apenas em sermões, mas em ação para tornar nova a humanidade.
Andaram pelos caminhos do campo e chegaram aos centros urbanos levando a Palavra, tornando viva uma religiosidade popular, uma novidade espiritual para um tempo que conhecia apenas coro e púlpito. Mostraram uma grande sensibilidade para a dimensão fraterna da convivência humana. Sair do claustro para o mundo é uma aproximação social. Se a Vida e a Regra é viver o Evangelho, a vida baseada na Regra tem que ser vivida onde o povo está; o testemunho cristão é público, nas ruas e no coração das pessoas. A pregação é religiosa e ética, e todos podem ver a força das virtudes dos frades primitivos na chama da Palavra que neles é espírito, pregação e vida, amor e devoção. Esmola pedida e esmola recebida é esmola partilhada. A dimensão penitencial é uma evangelização sem paredes. Andar por todos os lugares e reunir-se em Capítulos para partilhar maravilhas do que é abandonar-se a Providência. Vestir-se na simplicidade é mostrar-se sem duplicidade. Abraçar a humildade é evitar o poder que esvazia a autoridade. Ser penitente é ser um convertido. A conversão é mudar de caminho, mudar o rumo para encontrar a melhor direção. É um rito de passagem de uma vida anterior para um novo modo de vida. Isto não se dá sem rupturas e sem ascese: é preciso disciplina para abraçar o compromisso de viver um novo modo de ser e de estar no mundo. O convertido sabia estar no eremo, sabia estar nas frestas do lugar solitário e dai sair para ser comunitário, ir para os costumeiros lugares do mundo. Onde estivesse era desapegado, de coração puro e vivendo apenas do estritamente necessário.
Continua...
FREI VITORIO MAZZUCO
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