INSPIRAÇÕES FRANCISCANAS PARA 2018 – 2


Revendo o Documento do Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores de 2015, parágrafo 11, encontro ali: “No passado, quando se formava uma tempestade no mar, os marinheiros normalmente jogavam na água o peso supérfluo, como nos atesta também o livro de Jonas (Jn 1,5). Nós também somos convidados a retornar à pobreza e a nos livrarmos do supérfluo. Em nosso tempo, também nós devemos jogar fora as nossas falsas seguranças e vencer a onda do medo e da angústia através da nossa fé em Deus”. No final de ano e início de ano é um bom tempo de fazermos um rito de passagem limpando gavetas e armários, reduzindo cabides e coisas. Há certos acúmulos que não servem mais. O Papa Francisco nos diz que certas tradições não nos servem mais. Ajuntamos coisas das necessidades que não pertencem mais aos nossos desejos. Desapego é sempre um bom jeito de recomeçar. Mas não só de coisas, mas de certas convicções que estão no amontoado do sótão de nossa consciência.

Ainda acumulamos preconceitos contra as culturas, credos, etnias, condição social e nível de formação.  Há ainda amargura nas relações. Intolerância gera um ódio nocivo a saúde do corpo e alma. Há muita raiva e pouco humor. O outro e a outra não são inimigos. Sua opção religiosa ou afetiva não são um perigo. A vida particular de uma pessoa não interessa para ninguém; isto está entre a consciência pessoal dela e de Deus. O que interessa é a obra que ela faz e a obra que ela está legando para a humanidade. Hoje temos dificuldades se o nosso vizinho é espírita, se é umbandista, evangélico ou esotérico. Quem sou eu para dizer que meu catolicismo é mais coerente do que a fé que ele professa? Agredir a religião do outro significa que há um enfraquecimento na minha fé. O Espírito de Assis dialoga com culturas e religiões. Francisco dialoga com o sultão numa troca de experiência de fé. Para Francisco de Assis não precisa haver guerra entre cristianismo e islamismo quando é possível dialogar no que as pessoas possuem de mais bonito: a fé! Em 2018 devíamos exercitar mais a tolerância.

Na Regra Bulada 6,8, Francisco de Assis fala do cuidado de mãe: “Se a mãe ama e nutre o seu filho carnal, quando mais diligentemente deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual?” E ainda citando o Documento do Capítulo Geral de 2015, no parágrafo 15:  “Falando de mãe, Francisco tem diante dos olhos o ideal de mãe natural, mas também nos convida a darmos um passo adiante para viver uma maternidade espiritual, Ser misericordioso significa ter o coração de mãe, que quer dar tudo o que é bom ao seu filho (...) O Papa Francisco recorda que os cristãos são chamados a viver a alegria do Evangelho e convida à reflexão sobre o fato de que “quando em uma família se perde a capacidade de sonhar, as crianças não crescem e o amor não cresce, a vida enfraquece e apaga-se” ( Papa Francisco, Discurso em Manila, 16/05/2015 ).Mais uma vez,  devemos  cultivar os nossos sonhos para uma vida mais plena”.

Outro dia uma pessoa muito querida me dizia, o meu cachorrinho é muito feliz porque é muito amado. E realmente, ao conviver com o cãozinho, ele era uma inteira energia que fazia vibrar uma intensa felicidade. E as pessoas? Por que nas famílias há muitas brigas e nas fraternidades de vida religiosa e vida franciscana há tensões por coisas banais? Por que somos mais pais e mães dos pets e não dos consanguíneos? Por que em nossas fraternidades o Ser irmão e irmã é tão estranho que nos sentimos num hotel e não numa vida de convivência fraterna?  Que em 2018 isto seja também motivo de mudança.

Textos inspiracionais das nossas Fontes, extraídos da Crônica de Tomás de Eccleston: 

“Porque o justo deve julgar sua vida pelo exemplo dos melhores, uma vez que os exemplos quase sempre compungem mais do que as palavras da razão; para que tenhais algo de próprio com que possais confortar vossos caríssimos filhos” (Ec 2).

“Os irmãos daquele tempo, tendo as primícias do Espírito, serviam ao Senhor não com constituições humanas, mas com livre afeto de sua devoção” ( Ec 27)

“Em todo tempo, os irmãos eram tão bem humorados e alegres entre si que apenas por olhar-se mutuamente se entregavam ao riso” (Ec 28).

“(...) Tu és menor pelo nome, sê menor pelos atos,
Suporta a fadiga, e a paciência rebaixe a mente soberba.
Na verdade, o coração censura a mente pequena,
A paciência purifica, quando algo é de lama;
Se alguém te corrige, este é quem te guarda;
Ele odeia não a ti, mas o mal que tu fazes. (...)
Será apenas uma sombra do menor
Aquele que busca o nome sem a realidade.” (Ec 37).

“Oh! Quão fortemente obrigados, oh quão docemente vencidos pelos benefícios divinos, oh quão honrados por imensa dignidade foram aqueles que nas dúvidas puderam ser dirigidos pelos conselhos, nos acontecimentos tristes ser confortados pelas consolações, nas coisas graves ser provocados pelos exemplos de tantas e tais pessoas que tinham as primícias do espírito! Oh graça inefável, oh prerrogativa incomparável, oh afeição suavíssima de doçura inexaurível, poder gozar a amizade de tão grandes homens, alegrar-se na presente peregrinação peço especial afeto de pessoas tão eminentes, recomendar-se pela graça de homens tão famosos “ (Ec 116 ).

“Disse ainda um frade pregador: “Três coisas são necessárias para a saúde temporal: o alimento, o sono e o bom humor”. Ordenou igualmente a um irmão melancólico que bebesse por penitência um cálice cheio de ótimo vinho; e como este tivesse bebido até ao fim, disse-lhe: “Irmão caríssimo, se tivesse frequentemente tal penitência, terias em todo caso uma consciência melhor” ( Ec 118).

Que façamos uma humorada crônica de nossa vida em 2018! Paz e Bem!

FREI VITORIO MAZZUCO

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