Uma oração de muita força


Considero a Oração de São Francisco diante do Crucifixo de São Damião, feita em 1205, a prece do discernimento, a oração mais importante do franciscanismo: “Altíssimo e glorioso Deus, ilumina as trevas do meu coração. Dai-me uma fé reta, esperança certa e caridade perfeita. Sensibilidade e conhecimento, Senhor. A fim de que eu cumpra o vosso santo e veraz mandamento. Amém!”.

Esta é uma prece feita entre ruínas diante de um Cristo vivo e em pé. Há sempre um olhar de luz, uma presença de luz, uma fala de luz em todo desmoronamento. A oração é uma prova de que algo ainda não foi por terra. Pensamos que oração é falar com Deus ou ouvir o que Ele tem para dizer; ou estar num profundo silêncio; tudo isto é correto; mas oração é, sobretudo, momento de iluminação. Francisco pede luz para as trevas do coração, o lugar onde se filtram todas as experiências. Se o coração está iluminado tudo se ilumina. Francisco pede a fé que deve reerguê-lo. A fé sustenta a identidade do homo erectus, aquele que não nasceu para rastejar, mas para jamais ser um ser decadente. Crer é erguer-se. É esperança certa, precisa, princípio de todos os sonhos que remetem para o saber para onde se vai.

A prece pede a concretude do Amor, para que seja perfeita. Não basta amar, é preciso amar na medida da perfeição, isto é, dia a dia, ir perfazendo-se na caridade, este jeito do Amor tornar-se uma obra que leve a amar mais. Francisco quer a sensibilidade, esta fineza de espírito, a percepção de tudo, que não deixa de sentir o grito de abandono e descuidado de todas as coisas, de todos os seres que estão ali aos pés do familiar. Francisco quer o conhecimento como nascer junto a todas as experiências. Conhecer melhor para amar mais intensamente.

Não basta pedir ou agradecer, é preciso abraçar uma grande convocação: o mandato do Senhor, o envio do Senhor, a vontade do Senhor. A melhor oração é aquela que faz um mergulho no querer de Deus e o transforma em promessa e cumprimento.

FREI VITÓRIO MAZZUCO

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