O ANO SANTO DA MISERICÓRDIA - Perspectivas Franciscanas - 13




O encantamento que Francisco de Assis tem pela Encarnação faz com que ele se identifique mais ainda com Jesus Cristo, a misericórdia encarnada do Pai, Aquele que vem para reconciliar, que é manso e humilde de coração. Em Jesus estão presentes de um modo cristalino todas as qualidades do ser misericordioso. Jesus oferece alimento e descanso (Mt 11,28); é piedoso e compassivo (Tg 5,11). A carta aos hebreus chama Jesus de “Pontífice misericordioso” (Hb 2,17). Na carta encíclica “Dives in Misericórdia”, o papa João Paulo II destaca bem a atuação de Jesus junto à humanidade, sobretudo quando ela é ameaçada em seu núcleo, em sua  existência e em sua dignidade.

O modo de Jesus ser misericordioso ultrapassa as medidas humanas. Francisco entende que a partir de Jesus a misericórdia é a disposição do coração compadecido. Assim como Deus Pai, o Deus Filho está sempre antenado ao sofrimento das pessoas e caminha nas estradas da Palestina com seus passos e olhar de misericórdia. Jesus e Francisco concretizam o texto mais paradigmático do Antigo Testamento que é Êxodo 3, 6-9, um texto necessário: “Eu vi a opressão do meu povo, eu ouvi o seu clamor e desci para libertá-lo”. Ver a realidade, ouvir e aproximar-se sempre desperta a sensibilidade. Sob o olhar divino é preciso ver a miséria do povo, ouvir e atender, conhecer de perto o sofrimento e descer para libertá-lo. Solidariedade vem de sodalium, sodalício, o solícito, o companheiro, aquele que vai junto, que conduz para solução, que percebe e fica indignado com a opressão.

Podemos olhar os textos do AT e NT, os textos das nossas Fontes e vamos notar que misericórdia e compaixão formam o eixo central da ação de Deus para com o ser humano. Não basta saber do sofrimento é preciso envolver-se para tirar a pessoa do sofrimento e trazer de volta a felicidade. É uma ação consciente, intencional, um dever interior, uma fidelidade ao Amor.

Para Francisco de Assis, a misericórdia comporta fazer valer o Amor que passa pela presença fraterna, pela aproximação, pelo estar junto, pela ternura e piedade, clemência e serviço devotado, bondade e graça que sempre aparecem quando mais grita a miséria humana. Ter misericórdia é amar como Deus ama, é se manifestar como Deus se manifesta. O ser humano é um receptor do modo como Deus ama, e ele precisa de Francisco, precisa de cada um de nós para mostrar-se assim, revestido de compaixão, porque ao ver, ouvir e estar próximo da miséria humana, sente, pensa e age, mesmo tendo que passar pelo crivo do sofrimento e da dor.

Continua

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