Início do Ministério de D. Bernardo: “Uma inundação de contentamento”
Estive em Óbidos (PA) para a posse de Dom Bernardo Johannes Bahlmann, OFM. Em tempos de chuva intensa, os rios da Amazônia transformam a paisagem num mar de água, onde casas, árvores, templos, cais, portos, ruas e espaços ribeirinhos são encobertos. Como o povo de lá convive bem com o fenômeno das cheias e da vazante, não havia aquela neura sulista de ver em tudo a tragédia. Percebi aquela calma paciente de esperar o rio, o tempo, a lua fazer a sua parte; contudo, não há re-signação nem acomodação. O rio ensinou àquele povo a ter calma e resistência. Em Óbidos, as águas encobriram as ruas beira rio e os trapiches transformaram-se em passarela segura para se chegar. A cidade estava em festa. Faixas de boas vindas ao novo bispo e muita gratidão a Dom Martinho Lammers, agora bispo emérito.
O povo e o bispo têm uma história comum por ali. Quando o bispo é popular, o seu nome está nas ruas e no carinho amazônide; ele faz parte da alma daquela gente. É muito bom quando uma posse vira um acontecimento.Nas lanchas, nos barcos, nas ruas e nas beiras, o bispo era assunto, aliás, os dois: Dom Bernardo e Dom Martinho. Dom Bernardo tem um sorriso natural feito vitória-régia, permanentemente aberta. Dom Martinho tem um humor e uma simplicidade sedutora, feito boto-tucuxi.
O povo era só uma inundação de contentamento. A cidade nem parecia preocupada com a enchente; ela estava toda cheia de mística e motivação. O povo estava faceiro de contentamento. As faixas eram originais e fortemente acolhedoras. Tinha uma que dizia: “ Bem-vindo, Dom Bernardo, Núncio de Deus!”. O jeito caboclo tem lá os seus modos de sublimar a nunciatura. As embarcações trouxeram muitos bispos, muitos sacerdotes, religiosas, religiosos, missionários leigos, os frades e os focolarinos, povo das cidades ribeirinhas, Ordem Franciscana Secular, comunidades, gente da Prelazia toda.
Havia imprensa, fotógrafos e um rio de máquinas digitais. Da Alemanha vieram os irmãos e cunhadas de Dom Bernardo. O Pároco de sua cidade natal, na Alemanha, veio também. Misturou-se tudo como uma gostosa calderada de tucunaré, pirarucu, surubim com muito xibé. Tanta gente que navegou do Gamá ao Tocantins, do Tocantins ao Amazonas.A missa de posse foi no sábado, dia 23, às 18 horas. A praça estava linda, fervorosa, colorida. Missa ao ar livre tendo o Rio Amazonas como fundo. Duas coisas sagradas para o povo de Óbidos: na frente o seu rio e atrás a catedral de Sant’ Ana.
Quando o comentário inicial dava o sentido celebrativo, a música de entrada soava nos primeiros acor-des e o imenso cortejo de bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, acólitos e ministros saía da Igreja rumo ao palco-altar, montado no canto da praça, a chuva veio com dimensões amazônicas. Ela nos banhou a todos. Chuva torrencial. Quem precisou abrigou-se na ca-tedral, mas a maioria não arredou pé. Cada guarda-chuva abrigava quatro pessoas. A maioria ficou sob aquele aguaceiro. Não diminuiu em nada a alegria, o ânimo, a fé, a paixão, a garra daquela gente. Quando há amor entrelaçado, o tempo é sempre bom. Foram duas horas e meia de celebração.
As preces, as falas, as homenagens, os símbolos , as oferendas, a liturgia preparada com competência e unção. A chuva molhando tudo e a todos, mas ninguém saía do lugar numa só comunhão de corpo e alma. Quanto mais chovia mais o povo rezava. Cada vez que o nome de Dom Bernardo era pronunciado, choviam palmas. Cada vez que Dom Martinho era citado, jorravam manifestação de apreço e gratidão. Dizem que o Bispo Ordenante de Dom Bernardo, na Alemanha, disse: “Você trabalhou a vida toda pelos pobres, agora vai viver com eles!” Sei que Dom Bernardo sentiu em todo o seu ser a comunhão dos simples e esta plena certeza.Tivemos recepções, almoço, jantar, música e dança.
Falou o prefeito, o representante da governadora, e tantos que ali traziam a unidade para com o Bispo. Porém, o que falou muito foi a alegria nos olhos do povo. Povo que tem fé firme igual tronco de castanheira. Povo que precisa da Igreja assim como precisa do peixe, da tapioca e do açaí. O Bispo está no coração das pessoas porque a Igreja da Amazônia nunca deixou de correr no sangue e perder sangue, se preciso for, por aquela gente. Foi uma festa missionária com certeza! Profusão de línguas e etnias entre os que vieram de outras pátrias, como missionários, para servir a Prelazia.
O clero da Prelazia estava todo lá numa comunhão real com seu Bispo. Estive lá e vi. Pude contemplar o elo de um povo que ama muito a sua igreja local. Um povo que não esconde sua paixão, sua declaração coletiva de amor. Na Amazônia tudo é imenso. É como diz uma toada do boi-bumbá: “Sou apaixonado, sou amor, sou alegria (...) Meu sangue é vida, suor e fibra, meu canto é forte, sou vibração, explode os sonhos de emoção (...) preparei minha bandeira pra içar no ar. Afinei a minha voz e o som do meu tambor (...) E não há nada que supere a força do meu som. Nem coração que agüente a pressão do calor. É garra, é amor, é paixão!”
Dom Bernardo tomou posse na Prelazia e o povo tomou posse no coração do Bispo. Agora é pastorear aquele povo de Deus, povo da floresta. Agora é lutar para que nunca termine a sustentabilidade da mata, seus recursos naturais e sua sabedoria. É preciso viver sem destruir! A Amazônia é única! Gente, entes, danças, crenças, ritos, lendas e verdade. Os filhos e filhas das águas. As mesmas águas que jorraram sobre a posse como um grande batismo. É no meio disto tudo que Dom Bernardo vai fazer valer o seu lema: “A todos Vida Plena!”
Que a grande fé deste povo o abençoe, que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia seja sua intercessora,que São Francisco o acompanhe sempre, que a cosmogonia amazônide o guarde, que jacarés, peixes, jacuarus, lagartos e serpentes, gaviões, tribos, aldeias, tiriós e pajés, comunidades ribeirinhas, águas sucurijus, tuxauas, canoas, remos, redes, urupês, castanhais, borboletas, pescadores, capelas e rezadores, Curupira, a Mãe Terra, as flautas, a festa ,o Círio, o pato ao tucupi, a farinha e os frutos o protejam!
O povo e o bispo têm uma história comum por ali. Quando o bispo é popular, o seu nome está nas ruas e no carinho amazônide; ele faz parte da alma daquela gente. É muito bom quando uma posse vira um acontecimento.Nas lanchas, nos barcos, nas ruas e nas beiras, o bispo era assunto, aliás, os dois: Dom Bernardo e Dom Martinho. Dom Bernardo tem um sorriso natural feito vitória-régia, permanentemente aberta. Dom Martinho tem um humor e uma simplicidade sedutora, feito boto-tucuxi.
O povo era só uma inundação de contentamento. A cidade nem parecia preocupada com a enchente; ela estava toda cheia de mística e motivação. O povo estava faceiro de contentamento. As faixas eram originais e fortemente acolhedoras. Tinha uma que dizia: “ Bem-vindo, Dom Bernardo, Núncio de Deus!”. O jeito caboclo tem lá os seus modos de sublimar a nunciatura. As embarcações trouxeram muitos bispos, muitos sacerdotes, religiosas, religiosos, missionários leigos, os frades e os focolarinos, povo das cidades ribeirinhas, Ordem Franciscana Secular, comunidades, gente da Prelazia toda.
Havia imprensa, fotógrafos e um rio de máquinas digitais. Da Alemanha vieram os irmãos e cunhadas de Dom Bernardo. O Pároco de sua cidade natal, na Alemanha, veio também. Misturou-se tudo como uma gostosa calderada de tucunaré, pirarucu, surubim com muito xibé. Tanta gente que navegou do Gamá ao Tocantins, do Tocantins ao Amazonas.A missa de posse foi no sábado, dia 23, às 18 horas. A praça estava linda, fervorosa, colorida. Missa ao ar livre tendo o Rio Amazonas como fundo. Duas coisas sagradas para o povo de Óbidos: na frente o seu rio e atrás a catedral de Sant’ Ana.
Quando o comentário inicial dava o sentido celebrativo, a música de entrada soava nos primeiros acor-des e o imenso cortejo de bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, acólitos e ministros saía da Igreja rumo ao palco-altar, montado no canto da praça, a chuva veio com dimensões amazônicas. Ela nos banhou a todos. Chuva torrencial. Quem precisou abrigou-se na ca-tedral, mas a maioria não arredou pé. Cada guarda-chuva abrigava quatro pessoas. A maioria ficou sob aquele aguaceiro. Não diminuiu em nada a alegria, o ânimo, a fé, a paixão, a garra daquela gente. Quando há amor entrelaçado, o tempo é sempre bom. Foram duas horas e meia de celebração.
As preces, as falas, as homenagens, os símbolos , as oferendas, a liturgia preparada com competência e unção. A chuva molhando tudo e a todos, mas ninguém saía do lugar numa só comunhão de corpo e alma. Quanto mais chovia mais o povo rezava. Cada vez que o nome de Dom Bernardo era pronunciado, choviam palmas. Cada vez que Dom Martinho era citado, jorravam manifestação de apreço e gratidão. Dizem que o Bispo Ordenante de Dom Bernardo, na Alemanha, disse: “Você trabalhou a vida toda pelos pobres, agora vai viver com eles!” Sei que Dom Bernardo sentiu em todo o seu ser a comunhão dos simples e esta plena certeza.Tivemos recepções, almoço, jantar, música e dança.
Falou o prefeito, o representante da governadora, e tantos que ali traziam a unidade para com o Bispo. Porém, o que falou muito foi a alegria nos olhos do povo. Povo que tem fé firme igual tronco de castanheira. Povo que precisa da Igreja assim como precisa do peixe, da tapioca e do açaí. O Bispo está no coração das pessoas porque a Igreja da Amazônia nunca deixou de correr no sangue e perder sangue, se preciso for, por aquela gente. Foi uma festa missionária com certeza! Profusão de línguas e etnias entre os que vieram de outras pátrias, como missionários, para servir a Prelazia.
O clero da Prelazia estava todo lá numa comunhão real com seu Bispo. Estive lá e vi. Pude contemplar o elo de um povo que ama muito a sua igreja local. Um povo que não esconde sua paixão, sua declaração coletiva de amor. Na Amazônia tudo é imenso. É como diz uma toada do boi-bumbá: “Sou apaixonado, sou amor, sou alegria (...) Meu sangue é vida, suor e fibra, meu canto é forte, sou vibração, explode os sonhos de emoção (...) preparei minha bandeira pra içar no ar. Afinei a minha voz e o som do meu tambor (...) E não há nada que supere a força do meu som. Nem coração que agüente a pressão do calor. É garra, é amor, é paixão!”
Dom Bernardo tomou posse na Prelazia e o povo tomou posse no coração do Bispo. Agora é pastorear aquele povo de Deus, povo da floresta. Agora é lutar para que nunca termine a sustentabilidade da mata, seus recursos naturais e sua sabedoria. É preciso viver sem destruir! A Amazônia é única! Gente, entes, danças, crenças, ritos, lendas e verdade. Os filhos e filhas das águas. As mesmas águas que jorraram sobre a posse como um grande batismo. É no meio disto tudo que Dom Bernardo vai fazer valer o seu lema: “A todos Vida Plena!”
Que a grande fé deste povo o abençoe, que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia seja sua intercessora,que São Francisco o acompanhe sempre, que a cosmogonia amazônide o guarde, que jacarés, peixes, jacuarus, lagartos e serpentes, gaviões, tribos, aldeias, tiriós e pajés, comunidades ribeirinhas, águas sucurijus, tuxauas, canoas, remos, redes, urupês, castanhais, borboletas, pescadores, capelas e rezadores, Curupira, a Mãe Terra, as flautas, a festa ,o Círio, o pato ao tucupi, a farinha e os frutos o protejam!
Comentários
Frei Vitório pelos seus belos comentários da recepção do Novo Bispo de Óbidos.
Tenho a plena certeza que o "Povo obidense" vai colaborar com o meu confrade na sua caminhada de Bispo na Prelazia de Óbidos.
Faltou uma simples palavra no seu comentário, que foi de fazer a ligação com a presença dos frades na cidade de Óbidos. Sendo que no dia 05 de janeiro completou 100 anos da presença dos OFM em Óbidos.
Que SANT'Ana, padroeira dos obidenses interceda por vc, e que vc seja sempre esse frade inspirado para pronunciar as palavras ricas em sabedoria.
Um abraço fraterno,
Frei Everton Lopes,OFM ( Filho da Cidade de Óbidos, frade da Custódia São Benedito da Amazônia)