Francisco de Assis e a Encarnação – De Greccio para todos os cantos do mundo – 9

 


 Em Greccio não havia o fausto das catedrais e das abadias, onde normalmente eram celebradas as representações sacras. Não havia atores nem textos a serem recitados. Não havia a coreografia das grandes cerimônias pontifícias, que orientavam as celebrações do Ofício litúrgico, dentro do qual estava inserida a sacra representação. Em Greccio havia somente uma gruta verdadeira, natural, cavada na rocha, capaz de acolher somente o celebrante e uns poucos assistentes sacros, além de dois animais junto à manjedoura-presépio.

Os frades, vindo dos conventos vizinhos, estavam do lado de fora, rezando, cantando com o povo em meio a grande júbilo, iluminados pela claridade dos archotes, mas sem ler as palavras sagradas da liturgia e as notas dos cânticos sacros porque não tinham breviários, antifonários ou outros livros. Somente o ardor da fé e do amor os aquecia naquela noite gélida. O que distingue certamente a celebração natalina de Greccio das outras celebrações natalinas em uso nas catedrais e nas abadias foi precisamente o fato de não ter sido uma representação sacra, mas pura celebração de fé e de amor” (Van Hulst, Cesarius, Dicionário Franciscano, p. 471). Aqui está a originalidade de Francisco de Assis!

Não podemos esquecer que Francisco de Assis foi em peregrinação a Terra Santa, em 1219, e como todo peregrino foi a Belém. Ali, provavelmente, nasceu a ideia de transformar um eremitério franciscano numa nova Belém. Normalmente se espalham cruzes para lembrar o Calvário. Francisco espalha manjedoura. Em 1223, Francisco de Assis está em Roma para obter a aprovação, através de uma Bula, da sua Regra. Certamente foi a Santa Maria dos Anjos, onde existe uma imitação da gruta de Belém, onde o Papa celebrava a missa de Natal. Francisco não copiava, mas ampliava o que via e vivia. Logo depois da estadia em Roma, ele pede ao seu amigo João Velita o lugar e as possibilidades de fazer o Presépio de Greccio. Tudo feito sem grandes barulhos, mas no silêncio e a partir de um pequeno espaço a expressão de um grande significado. Aqui está a originalidade de Francisco de Assis!

Reunir personagens da ancestralidade familiar, pastoril, animal, vegetal, sideral é visualizar as relações que sustentam a história do Reino de Deus se instalando no mundo. O Presépio é experiência existencial e rito, é o lugar privilegiado de fazer o Evangelho personificar-se na sua origem; é comunhão universal onde tudo se irmaniza. É a Palavra da alegria e do encontro; é um fato sem muitas cerimônias, é uma crônica revelada sem palavras, mas gravada no olhar. O Presépio é mais do que o material. É um quadro de paz, sem conflitividade e sem rótulos. Um silêncio que proclama e uma Palavra que é referência a partir da força simbólica. Aqui está a originalidade de Francisco de Assis!

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa:  Presépio de Frei Pedro Pinheiro, em Bragança Paulista, 2008 

 

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