FRANCISCO DE ASSIS E A ENCARNAÇÃO – DE GRECCIO PARA TODOS OS CANTOS DO MUNDO - 5

 

“Um dia São Francisco

Inventou o Presépio

Foi assim que o quis

O Pobre de Assis:

Lapinha de nada,

A Mãe ajoelhada,

O Pai de vigia,

Os Anjos voando,

Os homens cantando, A Vaca e o Burrinho,

Tudo igualzinho

Como em Belém...”

(Dom Marcos Barbosa)

Como sabemos pelas Fontes Franciscanas, Francisco amava demais o Natal mais do que todas as Festas (2Cel199). Um grande Amor traz sempre para perto do coração e dos olhos. Junto a este Amor está seu Amor à Mãe Divina: “E rendemos-vos graças, porque, como por vosso Filho nos criastes, do mesmo modo, pelo santo Amor com que nos amastes, o fizestes nascer como verdadeiro Deus e verdadeiro homem da gloriosa sempre Virgem, a beatíssima Santa Maria” (RnB 23,3). Temos também na Carta aos Fiéis: “Esta Palavra do Pai tão digna, tão santa e gloriosa, o altíssimo Pai a enviou do céu por meio de seu santo anjo Gabriel ao útero da santa e gloriosa Virgem Maria, de cujo útero recebeu a verdadeira carne da nossa humanidade e fragilidade. Ele, sendo rico de todas as coisas, quis neste mundo, com a beatíssima Virgem, sua Mãe, escolher a pobreza” (2Fi 4-5). 

Ao criar o Presépio, Francisco de Assis une o que está no seu coração e o que está nas realidades físicas e nas celebrações. Aproxima a Natividade da Eucaristia, um encontro diário de carne e espírito, a matéria totalmente transformada: “Eis que diariamente Ele se humilha, como quando veio do trono real ao útero da Virgem; diariamente Ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote” (Adm 1, 16-18). Presépio e Eucaristia são presenças reais. Embora a Eucaristia e Paixão sejam as maiores evocações de presença salvífica, Francisco começa argumentar pela Encarnação, como diz na Compilação de Assis: “Pois o bem-aventurado Francisco tinha mais reverência pelo Natal do que por nenhuma outra solenidade do Senhor, porque, embora em outras solenidades o Senhor tenha operado a nossa Salvação, todavia por ter nascido para nós, como dizia o bem-aventurado Francisco, era necessário que fôssemos salvos. Por esta razão, queria que nesse dia todo cristão exultasse no Senhor, e, por amor daquele que se entregou a si mesmo, todo homem fosse generoso com alegria não somente para com os pobres, mas também para com os animais e as aves” (CA 14,7-8).

Pela representação do Presépio, Francisco cria um lugar para ser o memorial da Encarnação. Cena viva. Greccio é um espaço memorial. A Encarnação leva a conversão. O Presépio representa uma postura de vida que não fica indiferente. Gera convertidos. Olhar o Presépio é mudar algo dentro de si. O lugar evoca transformações: “Vendo, pois, o bem-aventurado Francisco que aquele eremitério dos irmãos em Greccio era honesto e pobre e que os homens daquela vila, embora fossem pobrezinhos e simples, agradaram mais ao bem-aventurado Francisco  que outros daquela província, por isso, muitas vezes descansava e morava nesse eremitério, mormente porque havia lá uma cela pobrezinha que era muito afastada, na qual o santo pai ficava. Por isso, pelo exemplo e pregação sua e de seus irmãos, muitos deles entraram na religião com a graça do Senhor, muitas mulheres conservavam sua virgindade, permanecendo em suas casas, vestidas com vestes religiosas. E, embora cada uma permanecesse em sua casa, vivia honestamente em vida comum e afligia seu corpo com jejum e oração, de maneira que o modo de vida delas parecia aos homens e aos irmãos não ser um modo de vida entre os seculares e seus consanguíneos, mas entre pessoas santas e religiosas que por longo tempo haviam servido ao Senhor, ainda que fossem jovens e muito simples. Por isso, muitas vezes o bem-aventurado Francisco dizia com alegria entre os irmãos sobre os homens e mulheres daquela vila” De uma cidade grande não se converteram tantos à penitência quantos de Greccio, que é uma vila tão pequena” (CA 7425-29).

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa A Virgem Maria e o Menino Jeus, São Francisco e aos anjos, Cimabue  (1240–1302) Wikipédia (domínio público) 

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