A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA – 38

 


Clara de Assis e o ostensório - I


As imagens de Santa Clara de Assis, em geral, a apresentam segurando um Ostensório. De onde vem esta representação? Ela é verídica ou lendária? Independentemente deste questionamento temos que nos ater ao significado do fato em si. Vamos voltar ao mês de setembro de 1240 onde se está na assim chamada guerra de Assis. Tropas do imperador Frederico II, o Barbaroxa, cercam Assis. Muitos dizem que eram tropas muçulmanas, mas não é verdade; o cerco é feito pelos assim chamados Sarracenos. Quem eram os sarracenos? Eram soldados mercenários, guerreiros profissionais de fama violenta e perigosa que prestavam serviço a quem pagava um bom soldo. O imperador os contratou para aumentar o seu exército. Os sarracenos chegam a Assis para conquistá-la. Por situar-se nos contrafortes do Monte Subásio, Assis é uma cidade estratégica para as táticas militares de então. A vista que se tem para o Vale de Spoleto é privilegiada e pode-se avistar qualquer indício de aproximação de tropas ao longe. Além de possuir uma das fortalezas mais cobiçadas, a Rocca Maggiore.

Os sarracenos acampam próximo ao Mosteiro de São Damião, onde reside Clara de Assis e suas Irmãs. Há tensão e preocupação. O perigo está no fato de que os mercenários são adeptos dos saques e espólios de guerra; invadir propriedades com muita agressividade. Por não seguirem certas disciplinas militares e por serem autônomos, o roubo, a tortura para conseguir seus intentos e o estupro de mulheres eram práticas comuns em seus ataques. Por isso podemos imaginar o perigo ao qual Clara de Assis e as Damas Pobres de São Damião estão expostas. Os sarracenos acreditam que mosteiros guardam tesouros da Igreja e das famílias nobres; sabem que dentro de São Damião estão mulheres consagradas e muitas vindas de famílias ricas e nobres, mas isso não faz parte do respeito que não tem para com o lugar sagrado e o sagrado feminino. As Irmãs de Clara estão diante de um grave perigo. Há um quilômetro e meio fora das muralhas de Assis, longe de tudo e de todos, a quem pedir socorro? Além disso os defensores da cidade, soldados e cavaleiros, estão impedidos de se aproximar do acampamento dos soldados inimigos. Afastadas das famílias biológicas, como pedir ajuda aos parentes? Separadas pela guerra da família espiritual, como pedir socorro aos frades irmãos? 

Os sarracenos invadem o claustro do Mosteiro de Clara. Não são muitos, mas um grupo de soldados sedentos de bens e com voracidade para saciar seus apetites da carne. Encontram ali belas e fortes mulheres. Há um pavor no ar, susto e desespero. Mas também os mercenários se espantam diante da extrema Pobreza do lugar. Elas não têm como se defender ou o que defender. Não possuem bens, a não ser a certeza de que o Grande Crucificado de São Damião seria a sua única proteção. A maioria dos sarracenos são desertores dos exércitos muçulmanos ou ex-prisioneiros de guerra das Cruzadas; portanto não são cristãos. A vida cristã daquelas mulheres e os sinais cristãos presentes no local não têm para eles significado algum.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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