FRANCISCO DE ASSIS E O SULTÃO - FINAL



O JEITO DE IR E VOLTAR DE FRANCISCO ESTÁ NO SILÊNCIO DO MISTÉRIO DE DEUS 


O sultão Al-Malik Al-Khamil não queria a batalha de Damieta. Estava disposto a restituir o reino de Jerusalém, com exceção da Transjordânia. Propôs uma longa trégua de 30 anos. Pelagio Galván, o legado papal e as Ordens Militares não aceitaram argumentando que a Transjordânia era um lugar estratégico para a segurança do reino de Jerusalém. Mesmo assim, o Sultão do Egito fez uma outra proposta: desejava conservar as fortalezas do território para assegurar a passagem das caravanas vindas da Arábia e do Egito, e queria em aluguel dois castelos, de Kerak e Shawbak, garantindo um pagamento anual de quinze mil bizantes de ouro.

Jean de Brienne e os reis Franceses tinham a ideia de aceitar, mas o cardeal Pelagio, que ambicionava a conquista de todo Egito, e nem as Ordens Militares, por motivos estratégicos, não aceitaram. Confiavam na batalha, na vitória e nos saques. A batalha de Damieta foi terrível em setembro de 1219. Após o encontro com Francisco, o sultão fez uma outra proposta. Jerusalém tinha sido reconstruída e com isto alguns castelos também foram reconstruídos, como os de Belvoir, Safed e Tibine.

Propôs uma comissão mista para a supervisão dos acordos, hospedagem de qualidade para esta comissão para mostrar a sua boa vontade em resolver algumas precisas questões. Entrava no assunto a restituição da verdadeira Cruz de Cristo que se acreditava perdida para sempre em meio às batalhas de Hattin e a queda de Jerusalém. Valia a pena reinventar uma nova relíquia para uma justa causa. Os cavaleiros Templários e os Hospedaleiros não aceitaram nenhum acordo. Sem acordo, a guerra recomeçou de modo intenso no dia 27 de setembro de 1219.

Em meio a esta batalha aparece Gilles de Lewes, um abade premonstratense, muito mais conhecido que Francisco de Assis no campo de batalha de Damieta. Gilles era um pregador das Cruzadas e foi para Damietta com cinco frades de sua Ordem. Ele era uma espécie de monge e soldado. Corajoso, heroico e ousado. Usava habito, elmo e armadura. São modos diferentes de ir e de voltar. Francisco de Assis volta para Assis em junho de 1220. Encontra a Ordem em disputas pela Regra, estudos e poder. A viagem ao Oriente e o encontro com o Sultão o havia provado fisicamente, psicologicamente e espiritualmente. Mesmo em crise, a sua Ordem sabia da sua força. Ele não queria uma Ordem fechada em si mesma, fossilizada ao interno de suas estruturas. A viagem ao Oriente ensinou para ele que não pode haver um cristianismo fechado.

Neste período temos um grande silêncio. Não existem grandes análises deste encontro com os sultão e os desencontros no interno da Ordem. Mas o silêncio é uma prova evidente de que há uma busca de autenticidade. Ele falou de Cristo em terras muçulmanas e faz silêncio em terras cristãs. É o jeito deste reconstrutor da casa e destruidor de muros. Jamais impôs as suas ideias ao Papa e aos cardeais. Queria a vida fraterna vivida sob a fidelidade ao chamado de Deus.

Aprendeu a guardar segredos para não fragmentar a conturbada vida fraterna que encontrou por ocasião de sua volta. No Oriente não encontrou fanáticos como se dizia; na volta, encontrou frades sequiosos do poder. Foi bem acolhido pelo sultão, mas não muito bem acolhido pelos frades em seu retorno. Ele quer fazer vibrar o coração de seus frades pelos valores do Reino, mas eles estão mais preocupados em construir conventos e confirmar Regras. Francisco, após a voltar do Oriente, encontrou-se com Clara em São Damião. Não temos nenhum relato deste encontro. O silêncio não é omissão, mas assimilação de uma experiência. O seu jeito de ir e voltar está no silêncio do mistério de Deus; não precisa de cartas, sermões ou documentos. O silêncio vai fecundar as palavras da Regra que ele refaz a partir de então.

FIM

FREI VITORIO MAZZUCO

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