RAÍZES DE UM MOVIMENTO PENITENCIAL - 12



FRANCISCO, O AUTÊNTICO PENITENTE 

As idas e vindas de Francisco de Assis às ruínas de São Damião, entre 1203 a 1207, não são fatos isolados de um contexto. Aquele lugar era cuidado por Oblatos de uma certa Confraria de São Damião, que mesmo não restaurando o lugar materialmente, cuidavam dos leprosos que ali se abrigavam em São Damião como um “converso”. Tornou-se assim um “oblato”, ou “donato”, uma forma oficial de “penitente” (Op. Cit. 136).

Grupos filantrópicos de ajuda aos pobres e leprosos existiam em Assis. O próprio pai de Francisco convoca um julgamento público de seu filho, que segundo ele, tinha defraudado seus bens, porque se considerava e, realmente era, um reipublicae benefactor et provisor, que quer dizer, um benfeitor e provedor das instituições da cidade. Mesmo Clara de Assis andou por instituições de caridade de Assis bem antes de Francisco. Os nobres faziam caridade. Francisco de Assis rompe com o modo institucional da caridade. Diz Jordano de Jano em sua Crônica: “No ano do Senhor de 1207, Francisco, mercador por profissão, com o coração compungido e tocado pelo sopro do Espírito Santo, começou uma vida de penitência com o hábito de eremita” (JJ 1).

Francisco faz por colocar-se dentro de um estado de vida penitencial, e faz para servir a Deus, como o costume dos penitentes. Vai morar em São Damião, reconstrói o lugar para os outros e reconstrói a si mesmo revestindo-se da dimensão penitencial. Diz a Legenda dos Três Companheiros: “E assim o bem-aventurado Francisco, concluída já a obra da igreja de São Damião, trajava um hábito eremítico e, trazendo um cajado na mão, andava com calçados nos pés e cingido por uma correia” (3Com 25). 

A vivência penitencial leva Francisco de Assis a dar passos concretos que determinam seu futuro, escolhe uma vida nitidamente evangélica, ter a consciência de que seria guiado espiritualmente e ser um guia espiritual, ser fiel a Deus e à Igreja.  Recupera o sentido de conversão que se perdeu em meio as heresias dos movimentos. Ele não é um penitente isolado que mortifica o corpo, mas sim um apóstolo do humano que cria uma vida fraterna.  Aceita os conselhos e a ajuda para o discernimento do Bispo Guido, de Assis, e de seus amigos Beneditinos do Monte Subásio, o padre Silvestre, que cuidava de São Damião, também ajudou muito na sua formação.

De todos estes colaboradores recebeu uma preparação teológica, gramatical, e um conhecimento bíblico exemplar. Na sua pregação itinerante mostrava segurança e profundidade nas palavras. Mesmo tendo muito tempo de meditação em lugares solitários, sempre procurou orientação nos dez Mosteiros Beneditinos que havia na região de Assis, e isto deu a ele orientação espiritual que o ajudou a construir um caminho espiritual.

Desenho de José Benlliure y Gil (1855–1937), "Os penitentes, Francisco e seus irmãos, vão a Roma pedir aprovação da Regra".


CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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