Pluralidade cultural e religiosa
Este texto foi escrito a propósito de uma carta questionando um texto sobre a prática do yoga no site "Ecologia &Espiritualidade".
Nós sempre crescemos quando somos questionados e fazemos um encontro com o diferente. É uma riqueza a unidade na diversidade! Nosso site é um portal franciscano e é de responsabilidade de nossa Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. O site "Ecologia e Espiritualidade" está unido ao nosso porque faz parte de um Curso de Pós-Graduação do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis - ITF; é o espaço aberto e democrático, para os que lutam pela ecologia interna e externa, manifestem a sua opinião; e, sobretudo, porque faz parte da Forma de Vida do Franciscanismo: lutar pelo meio-ambiente, cuidar e preservar a Vida em suas múltiplas manifestações. A missão do site dos ecólogos é integrar as diversas tradições, pensamentos e ações voltadas para o mesmo objetivo, ou seja Ecologia e Espiritualidade.
Hoje, neste época pós-moderna em que vivemos, uma das características é a pluralidade cultural e religiosa, isto é dialogar com um leque de experiências que vêm dos movimentos religiosos e da cultura dos povos, não aceitar isto é afunilar-se para dentro e re-afirmar o que já decretou o fim da modernidade: o indivíduo como portador de sentido para si próprio sem abrir-se para o amplo da existência.
O Documento da Família Franciscana do Brasil “Reviver o Sonho de Francisco e Clara de Assis no Chão da América Latina e do Caribe” (cf. VIII Centenário do Carisma Franciscano, Celebração Latino-Americana e Caribenha, Brasília
Não temos a intenção de, com esta resposta, contrariar uma opinião, que para nós é bem-vinda e nos dá um parâmetro para o que acreditamos... Queremos também dividir o nosso modo de pensar e uma das finalidades do site que é ser fiel ao Carisma Franciscano. Vou enumerar os assuntos elencados e dar a nossa opinião, apenas para um confronto de idéias.
1. Sabemos que o Yoga é uma filosofia hinduísta e que hoje é praticado por budistas, zenbudistas, cristãos, não-cristãos, esotéricos e pessoas que têm um pensamento holocentrado. É um caminho para o sadio da existência e não uma doutrina e nem um dogma. O hinduísmo não é cristão, por isso não fala de Jesus Cristo e as verdades que estão
Hoje existem práticas do Yoga adequadas ao cristianismo e a outras formas de experiência espiritual. Frei Inácio Larrañagna, nas Oficinas de Oração, usa exercícios de respiração vindos do yoga para ajudar a orar melhor. Recentemente, em Bauru (SP), Pe. Enedir promoveu, no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, uma palestra-debate com dois monges budistas que falaram aos católicos sobre a Kryo-Yoga e a importância da Meditação. Não havia nenhum proselitismo e nenhuma manipulação de verdades religiosas, mas sim um encontro entre verdades para iluminar as próprias experiências e práticas. Um dos paradigmas da pós-modernidade é este: há muito mais verdades no conjunto das religiões do que nos dogmas isolados de cada uma delas. É preciso acolher e compreender todas as experiências para apaixonar-se mais ainda pela própria religião. Não estive presente nesta palestra, mas sei por testemunho de quem esteve, que os dois monges budistas fizeram uma verdadeira declaração de reverência ao cristianismo.
2 e 3. Realmente nas práticas de yoga aparecem mantras. Se fossem mantras franciscanas certamente usariam frases das Fontes Franciscanas e Clarianas ( cfr. O CD “Mantras Franciscanas”), se fossem cristãs usariam as mantras beneditinas e das comunidades ecumênicas de Taizé espalhadas pelo mundo. Mesmo no cristianimso católico cantamos frequentemente: “Ó Luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu Ser, permanece em nós”. Pe. Jonas tem toda razão quando afirma que mantras hindus evocam os antepassados; o Evangelho de Mateus também traz a nossa ancestralidade, a nossa herança transgeracional (cf. Mt 1, 1-17s) Somos filhos da terra e da Luz, assumimos a nossa herança de parentesco e da consaguinidade e ao mesmo tempo, pela fé, superamos as nossas raízes biológicas para nos irmanarmos no que cremos. “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?” Jesus não está relativizando a família biológica, mas fundamentando pela Palavra a família espiritual. Não é um simples culto “reecarnacionista” ou apenas a lembrança dos mortos, mas sim a certeza de que em nosso sangue habitam gerações.
4. Se alguém entrega-se a outras filosofias e vê a sua fé
Não se perde a alma quando se está de um modo equilibrado com os pés no chão. O sadio e o santo não estão nas abstrações ou nas piruetas metafísicas, os nos preconceitos fundamentalistas de movimentos religiosos. O humano ganha a sua alma quando é profundamente humano habitado por uma inspiração Divina; quando integra em si a plenitude da totalidade: o Humano e o Divino; quando assume uma Espiritualidade Transreligiosa, isto é, não separa aquilo que Deus uniu: corpo e alma, Espírito e matéria, céu e terra, espiritualidade e afetividade.
Como iniciante num grupo de espiritualidade franciscana, coloque um ponto final no passado, vire a página, o que passou fazem parte de uma experiência que deve ser integrada nas avaliações da sua existência. Como Francisco de Assis você agora é peregrino pascal, isto é, faz a Passagem para o melhor e escolhe um Valor Maior; isto traz a verdadeira liberdade de acolher e integrar o negativo da vida. Acolher e transformar o negativo da vida
Quanto a sua última pergunta... se um cristão entende yoga como religião não deve praticá-la pois não se pode servir a dois senhores; mas se entender como terapia... é a busca do sadio. Salvação vem de salus que quer dizer sadio. Sanar é a mesma coisa que curar, sanar, cuidar.... Será que faz mal cuidar-se? Por caminhos diferentes uma pessoa pode chegar ao sadio da existência. O que foi ruim para uma pessoa não significa que é ruim para milhares. O importante é realizar-se nas escolhas que se faz. O critério de um Caminho Transcendente é a felicidade, a realização, o sentir-se bem. O Humano Religioso constrói-se com pedaços arrancados da Felicidade!
A fé vive mais nas perguntas e nos questionamentos. Como Franciscanos escolhemos o Caminho da Vida, o Caminho do Evangelho que é sempre o caminho do diálogo e da construção do Espírito. Ao percorrer pacientemente este Caminho...as respostas vão chegando!
Comentários
A missão deve ser na busca da unidade dentro dessa pluralidade. Esqueçamos as diferenças e partamos para juntar semelhanças - certamente assim encontraremos mais facilmente o rosto de Deus.
Ao invés de fuçar sobre o que me incomoda em outras crenças, procuro antes perceber o mesmo na minha fé cristã católica. Não para fazer meras críticas, mas antes para tentar melhorar e me aperfeiçoar como discípula e missionária naquilo que acredito.
Um abraço,
Ariane Zoby