A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA – 7



O FRANCISCO DE CIMABUE 

Homem eloquentíssimo, fisionomia alegre, aspecto benigno, imune de preguiça, desprovido de arrogância. Estatura mediana, mais para pequena, cabeça média e redonda, face um pouco oval e alongada, fronte plana e curta, olhos de tamanho médio, negros e simples, cabelos escuros, supercílios retos, nariz proporcional, fino e reto, orelhas eretas, mas pequenas, têmporas planas, língua confortadora, abrasadora e penetrante, voz forte e suave, clara e sonora, dentes unidos, iguais e brancos, lábios pequenos e finos, barba negra, não plenamente cerrada, pescoço fino, ombros retos, braços curtos, mãos magras, dedos longos, unhas compridas, pernas delgadas, pés pequenos, pele fina, muito magro, veste áspera, sono brevíssimo, mão sobremaneira generosa.  E porque era muito humilde, mostrava toda mansidão para com todos os homens, conformando-se de maneira saudável aos costumes de todos. O mais santo entre os santos, entre os pecadores parecia um deles” (1Cel 29, 83).

Não sabemos se Cimabue inspirou-se nesta detalhada descrição de Celano, mas o fato é que seu retrato de Francisco tem muita aproximação e uma ampla divulgação. A sua pintura revela Francisco no fervor da vida com seu modo belo, bom e verdadeiro. Esta obra de Cimabue é como uma melodia, uma canção popular cantando a personalidade de Francisco. Ao apontar a mais singela identidade de Francisco, Cimabue chegou a sua maior humildade. Ao colocar Francisco em sua arte fez a exposição perene da identidade do Santo. Um retrato despojado que revela o encantamento de uma vida. Cimabue ajuda a chegar a verdade de Francisco, uma capacidade de ler quem ele é. Na pintura que se contempla aparece de um modo nítido a experiência do Inefável em sua vida.

Francisco é o Bem Absoluto no qual está mergulhado, e Cimabue deixa vibrar em nós um certo toque de Francisco. Este ícone é uma fala expressiva de que na medida que o humano se realiza em sua intimidade interior, se realiza também no mistério de Deus. É um ícone da humildade e o humilde se submete a condição de deixar-se trabalhar por algo maior que ele mesmo.

Exprimir de um modo visível a experiência recôndita e invisível é a função do artista. Cimabue nos faz entrar em sua arte; como um profeta do invisível, é um anunciador de algo que de imediato não percebemos, mas então, no decorrer da jornada descobrimos Francisco, e então conseguimos ler a obra. O corpo limitado de Francisco, de um modo sereno, como que em leve sorriso, evoca para nós o corpo do Infinito.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

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