A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA – 10


O ESPELHO DE CLARA

A metáfora do espelho que faz o espelho de Clara tornar-se forte ícone da tradição franciscana e clariana tem o percurso determinado desde a origem mais remota do espelho: uma forma refletora para observar e considerar os astros celestes; trazer ampliado o olhar para as coisas do alto. Textos sagrados bíblicos e extra bíblicos falam do espelho da superfície das águas. Não dá para observar no espelho cristalino das águas se não houver calmaria, superfície límpida e não agitação. Neste sentido o espelho é um ícone de contemplação. O espelho das águas traz para perto o sol, a lua e estrelas. Distância e proximidade realizam um grande encontro de aproximação e presença.

O espelho feito de metal, bronze, prata, vidro, película metálica precisa de muito polimento para não distorcer uma imagem. Todo tipo de espelho reflete a luz. Um espelho num quarto escuro não serve para nada, mas se uma centelha de luz o encontra há uma grande iluminação. O espelho tem uma revelação que o olhar e as mãos podem tocar. Há mistério oculto e revelado diante do espelho. Há falas silenciosas e gritantes. Para a pessoa mística, o espelho traz o jeito imutável de Deus que vem ao encontro da busca humana que precisa encontrar um novo rosto a luz de uma outra Face. O modo de procurar e ver Deus atinge a alma humana.

Muitos textos da tradição cristã mostram Cristo como espelho do Pai, uma visibilidade sem mancha da luz divina. Anjos são espelhos de Deus. Maria é espelho da intimidade de Deus. Os santos e santas são espelhos das virtudes. Para Francisco de Assis, as criaturas todas são espelhos da bondade criadora e cuidadora do Altíssimo. Temos também o espelho como a Unio Mística: “É significativa também a forma como é empregada a simbologia do espelho para falar do processo de união mística. Neste aspecto, exerceu particular influência São Gregório de Nissa, através dos monges cistercienses. Para Gregório de Nissa, o caminho espiritual trem três etapas: a primeira é marcada pelos Provérbios, é tempo de purificação, é tempo de “limpar o espelho”; a segunda é o Eclesiastes, tempo de desengano, quando se percebe que tudo é vaidade; a terceira é a do Cântico dos Cânticos, quando a alma se torna esposa, toda do Amado, porque a contemplação a transfigura Nele” (Delir Brunelli, obra acima citada).

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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