ECOTEOLOGIA PARTE 4 - CUIDADO DA CRIAÇÃO E PREOCUPAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS
INTRODUÇÃO
O tema desta Unidade faz parte de um novo paradigma com relação à vida e à natureza. Nós temos a responsabilidade de fazer a nossa parte no cuidado para com a nossa Casa Comum, pois recebemos gratuitamente a obra sagrada de Deus como herança e como um bem para as nossas vidas. Como retribuir? Como estamos em um curso de ecoteologia, o que buscamos é motivar, sob o olhar espiritual, todas as experiências já feitas, de um modo prático ou conceitual, relacionando com a experiência religiosa-espiritual.
Saiba mais
Com o intuito de ilustrar este momento da
reflexão e paradigma, deixamos a indicação da Canção “O Sal da Terra”, composta
por Beto Guedes e Ronaldo Bastos, em 1981, que você pode conferir com a interpretação
de Beto Guedes no link a seguir.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VHPf5qH785s.
Acesso em: 02 ago. 2021.
A nossa identidade original vem de sermos feitos do barro movimentado com o sopro de vida do Criador (cf.Gn 2,7). Assim, se o ser humano se descontrola em suas atividades, ele causa a destruição desenfreada da matéria prima que está na natureza.
Criamos uma evoluída e tecnológica cultura industrial que, com toda a sua força de produção, pode voltar-se contra o ser humano e a natureza.
O consumo imediato coloca a vida em risco, porque tudo é uma cadeia natural de ligações mútuas em sistemas ordenados, a destruição de um pode gerar a morte de outros. A amplidão da natureza está ligada de um modo muito especial à convivência humana.
Onde nós mesmos somos a última instância, onde o conjunto é simplesmente nossa propriedade e onde o consumismo somente para nós mesmos. E o desperdício da criação começa onde já não reconhecemos qualquer instância acima de nós, mas vemo-nos unicamente a nós mesmos (BENTO XVI, 2008, [n. p.]).
[q]uando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus; quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando a terra das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas úmidas, quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar...tudo isso é pecado [...] um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus. (BARTHOLOMEW, 2012, [n. p.])
Saiba mais
resumo feito por Antonio Gonçalves sobre o
Relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio:
(Avaliação Ecossistêmica do Milênio – AEM). Diário Verde, 2009.
Saiba mais
Indicamos a leitura do artigo de Hans Joachim
Schellnhuber intitulado “Uma base comum – A
encíclica papal, a ciência e a preservação do
planeta Terra”, que foi publicado na Revista do
Instituto Humanistas Unisinos, em 2015.
Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao469.pdf.
Acesso em: 11 maio 2021.
IMPORTANTE
Nas palavras do Papa Francisco, é indispensável saber que “[a]s mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade. Provavelmente, os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em lugares particularmente afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais. Não possuem outras disponibilidades econômicas, nem outros recursos que lhes permitam adaptar-se aos impactos climáticos ou enfrentar situações catastróficas, e gozam de reduzido acesso a serviços sociais e de proteção. Por exemplo, as mudanças climáticas dão origem a migrações de animais e vegetais que nem sempre conseguem adaptar-se; e isto, por sua vez, afeta os recursos produtivos dos mais pobres, que são forçados também a emigrar com grande incerteza quanto ao futuro da sua vida e dos seus filhos. É trágico o aumento de emigrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental, que, não sendo reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais, carregam o peso da sua vida abandonada sem qualquer tutela normativa. Infelizmente, verifica-se uma indiferença geral perante estas tragédias, que estão acontecendo agora mesmo em diferentes partes do mundo. A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil”. (FRANCISCO, 2015, p. 23)
Na busca de recursos, cresce o ambicioso poder econômico que esconde os problemas e os sintomas de tudo o que acima descrevemos. E o modelo de produção e consumo aumenta sem chegar a uma política de contenção. O que tem sido feito para conter esse modelo? Um passo dado foi a implementação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, um órgão criado pela ONU para avaliar a ciência relacionada à mudança climática. Foi estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em 1988, para fornecer avaliações científicas regulares sobre mudanças climáticas, suas implicações e possíveis riscos futuros, bem como para propor adaptação, mitigação e estratégias; tem 195 estados membros. (BRASIL, [s. d.], [n. p.])
Os avanços dos estudos científicos mostram um conjunto de evidências. A ciência tem mostrado com clareza que o aquecimento global é resultante da emissão desenfreada de gases com efeito estufa decorrentes da queima de combustíveis fósseis. Logo, torna-se urgente reduzir essas emissões até reverter o aquecimento. Enquanto isso não acontecer, todos estamos sob risco.
Para entendermos melhor as consequências do aquecimento global, devemos ter em mente que questões básicas, como a distribuição e consumo de energia não chegam a todos da mesma forma. Com isso, grande parcela da nossa população é afeta.
A produção de energia à base de combustíveis fósseis em larga escala que foi iniciada pela Revolução Industrial e acelerada no século XX levou a um grande desenvolvimento humano – para uma minoria. Para muito poucos, ela gerou extrema riqueza. Do outro lado desse desenvolvimento se encontram os pobres e os mais pobres dentre os pobres. A violência estrutural desse desenvolvimento predetermina a vida deles. As fontes de energia de combustíveis fósseis são bens privados, de propriedade de empresas ou controlados por governos. Assim, o acesso à energia depende em grande parte dos recursos financeiros do indivíduo. (SCHELLNHUBER, 2015. p. 10)
[...] exige, portanto, uma tomada de consciência sobre o perigo e uma responsabilidade planetária constituída na solidariedade entre os povos e na cooperação internacional entre os países desenvolvidos e não desenvolvidos, endossando a mesma luta contra a destruição do planeta. (REIS, 2015, p. 32)
Texto originalmente publicado pela USF- FREI VITORIO MAZZUCO FILHO
Comentários