DE JUBILEU EM JUBILEUS – 2

 

A pureza do Evangelho vivido por ele incomoda até hoje os que querem seguir coachs e experts em conteúdos religiosos que se tornam influenciadores dos que não querem assumir a radicalidade que a vida cristã é: presépio, altar e cruz.  Se for para seguir mesmo Jesus é preciso ser como Francisco de Assis: ir na contramão da sociedade e viver uma conversão pra valer. Ele fez seguidores no modo ideal de vida de seguir os conselhos evangélicos. Ele faz a todos revisitarem os primórdios do cristianismo. No seu tempo, ele soube dizer um não, bem determinado a tudo que disputava espaço na sua querida cidade de Assis: a força do senhorio feudal e a nascente burguesia que dominavam as cidades. Não apoiou o trabalho na servidão rural, mas ajudou os camponeses que precisavam de voluntarioso trabalho. Aprendeu o que era bom e o que não era necessário com os movimentos de religiosidade popular; não entrou no modismo dos hereges que a tudo contestavam, mas preferiu permanecer dentro da Igreja com as lentes mais nítidas do Evangelho.

Hoje, fala-se muito da Economia de Clara e Francisco. Muitos criticam dizendo que é coisa de Papa que tende ao comunismo. Mas deixemos isto para a ignorância dos desinformados e alienados. Voltemos os olhos para a história do Franciscanismo e seu fundador que não se deixou seduzir pelos valores da burguesia de Assis. Seu pai, Pedro Bernardone queria que ele tivesse posse e bens, ele preferiu o desprendimento necessário para seguir Jesus Cristo. Francisco não foi um mercador da comuna, mas um recusador do dinheiro e do sistema apropriativo. Se trazia segurança para os nobres, o ethos burguês enchia as ruas de mendigos. Os frades e os pobres preferiam a segurança de Francisco de Assis que se chamava Fraternidade, irmãos ajudando irmãos, incondicionalmente. A Fraternidade era uma resposta contra a acumulação. Francisco nasceu e cresceu na escola de seu pai, que era mestre na lei da oferta e da procura, e da prosperidade mercantil. Francisco optou pela partilha fraterna em substituição a economia de apropriação.

Francisco de Assis rejeita a paz e os tratados de paz fundados nas guerras e nas armas. Ele desarmou a mente, o corpo e o espírito, para não se deixar contaminar pelo neoliberalismo dos burgueses de Assis. Justiça para o franciscanismo primitivo é partilha. Bens são para ser colocados a serviço e não para  comprar privilégios. Ele foi esmolar não para fazer obra de caridade, mas para dizer que a esmola era um direito do pobre e um dever de quem tinha a mais. Uma terra não pode abandonar os que nascem ali no seu lugar, mas tem que ajudar a prosperar, e não somente a prosperidade de uns poucos. Nascer como Movimento e fazer-se Ordem é colocar ordem na divisão de bens. Assis era um exemplo de desnível social. Francisco e seus frades mexeram com a ordem social de Assis, sem fazer revolução, mas andando como mendicantes e orantes. Eles trabalhavam com as próprias mãos para sobreviver como grupo e dividir com os que não tinham nenhum privilégio. O trabalho tornou-se serviço aos outros e não ascensão social; por isso recusavam postos de comando e chefias e se faziam ministros e servos do bem comum. Eles tinham a oração e a pregação a partir do coração e o trabalho artesanal nas mãos. Difícil foi ser coerentes com tudo isto, pois a subsistência tradicional da religião estava embasada em espórtulas, doações, esmolas, benefícios, privilégios, doações, rendas, remuneração e terras. Hoje os termos mudaram para prebendas, dízimo, campanhas de devotos, mas é a mesma coisa.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa: Frei Beto Coelho

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