FRANCISCO DE ASSIS, PENITENTE ENTRE OS PENITENTES - Final


Em sua primeira biografia sobre Francisco de Assis, narra Tomas de Celano: “Francisco, o fortíssimo cavaleiro de Cristo, percorria cidades e aldeias, anunciando o Reino de Deus, pregando a paz, ensinando a salvação e a penitência, não nas palavras persuasivas da sabedoria humana, mas na doutrina e no poder do espírito. Estava agindo em tudo mais confiantemente pela autoridade apostólica que lhe fora concedida, não usando qualquer adulação, qualquer lisonja sedutora. Não sabia afagar as culpas de ninguém, mas pungi-las, nem favorecer a vida dos que erram, mas golpear com dura censura, porque primeiramente persuadia a si mesmo em obra o que persuadia aos outros em palavras e, não temendo repreensor, falava a verdade com muita confiança, de modo que até homens letradíssmos, célebres em glória e dignidade, admiravam os sermões dele e na presença dele eram tomados por temor eficaz. Acorriam homens, acorriam também mulheres, apressavam-se os clérigos, aceleravam os religiosos para ver e ouvir o santo de Deus, o qual parecia a todos um homem de outro mundo. Gente de toda a idade e sexo apressava-se para ver as maravilhas que Deus de maneira nova operava no mundo por meio de seu servo. Realmente, naquele tempo, seja pela presença, seja pela fama de São Francisco, parecia enviada do céu à terra uma nova luz que afugentava toda escuridão das trevas que de tal modo havia ocupado quase toda a região que mal alguém sabia para onde dirigir-se. Assim, pois, a grande profundidade do esquecimento de Deus e a letargia da negligência de seus mandamentos haviam subjugado a quase todos, de modo que mal admitiam afastar-se de alguma forma dos velhos e inveterados males” (1Cel 36, 1-7).


Esta era a pregação penitencial segura, corajosa e verdadeira. Mudar-se para mudar, transformar-se para transformar. Um despertar para o cristianismo mais puro e original, um ensinamento espiritual que gera efeito em todos. Continua Tomás de Celano: “Brilhava como estrela refulgente na escuridão da noite, e como aurora expandida sobre trevas; e, assim, aconteceu que em breve tempo a face de toda província foi renovada e se apresentava por toda parte com rosto mais alegre, depois de ter deixado de lado toda a fealdade. Foi afugentada a aridez precedente, e depressa se levantou a colheita no campo árido; a vinha não cultivada começou a germinar o germe do perfume do Senhor, e tendo produzido de si flores de suavidade, produziu igualmente frutos de honra e honestidade. Ressoavam, por toda parte, a ação de graças e o canto de louvor, de modo que muitos, tendo abandonado as cortes seculares, na vida e ensinamento do bem-aventurado pai Francisco recebiam o conhecimento de si mesmos e aspiravam ao amor e à reverência para com o Criador. Começaram a vir a São Francisco muitos do povo, nobres e sem nobreza, clérigos e leigos, compungidos pela divina inspiração, desejando militar para sempre sob a instrução e magistério dele. O santo de Deus, irrigando a todos eles com as chuvas dos carismas, como rio fertilíssimo da graça celeste embelezava o campo do coração deles com as flores das virtudes: na verdade era um egrégio artífice, a cujo exemplo, regra e ensinamento – deixando fora o elogio - em ambos os sexos se renovava a igreja de Cristo e triunfava a tríplice milícia dos que devem salvar-se. E a todos dava uma norma de vida e demonstrava de maneira segura a via da salvação em todos os graus”  (1Cel 37, 1-7).

Assim vão nascendo e fortalecendo as Três Ordens, três estados de vida, três caminhos de Penitentes: os Frades Menores (1209), as Senhoras Damas Pobres-Clarissas (1212), e os Irmãos e Irmãs da Penitência, a Ordem Terceira e como é chamado hoje a Ordem Franciscana Secular (1221). Uma trinitária inspiração que vem renovar através do tempo, a igreja e o mundo. Ao viver como penitente, Francisco atrai penitentes. Uma força que tem as bases na Pobreza, Pregação e Penitência.

FREI VITORIO MAZZUCO

FINAL

Imagem: Piero Casentini

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