ELEMENTOS POLÍTICOS, RELIGIOSOS, SOCIAIS E CAVALHEIRESCOS NA JUVENTUDE DE FRANCISCO DE ASSIS E SUA PENITENTE RESPOSTA - 11


O conde Gualter de Brienne passa por Assis com sua expedição rumo ao sul da Itália em busca de conquista terras e bens. Francisco o segue. Aumentar o patrimônio significa entrar na nobreza. Para Pedro de Bernardone este é o caminho para seu filho. Para Francisco de Assis esta é a possibilidade de entrar no mundo das posses, dinheiro e fama. Ele vai como fuga e aventura, buscando respostas. Há uma parada em Spoleto e a doença que adquiriu no cárcere em Perugia o prostra no leito. Delírios de febre e sonhos o fazem discernir que tem que ser mais útil ao Senhor do que ao servo (3Comp 3). Refaz em si a pergunta do apóstolo Paulo em At 9,6: “Senhor, que queres que eu faça?”. Tem que voltar a Assis. Voltar não é derrota, mas mudança de foco em sua vida. Faz parte da dimensão penitencial mudar de rumo para achar o caminho certo. Assis passa a ser novamente seu ponto de chegada e partida.

Voltar a Assis é enfrentar o pai que investiu fortuna em preparar a sua jornada cavalheiresca, enfrentar os amigos que o veem voltar de mãos vazias, enfrentar a solidão e um momento depressivo que o faz vagar pelas estradas e campos de sua cidade. Passa pelas risadas de desaprovação dos que caçoavam dele. Da luta pela fama passa pela luta interior de uma mudança radical. Pode ter perdido a chance da nobreza, mas ganha a nobreza de sua alma resistente. Um período que vai de 1201 a 1205. Em 1206 faz uma peregrinação a Roma.  Encontra muitos pobres junto as basílicas dos Apóstolos. Troca de vestes com eles e pede esmolas como eles. Diz Raffaele Pazzelli: “O romeiro vindo de Assis quis experimentar: trocou de roupa com um dos mendigos e se pôs a pedir esmolas, em provençal. Depois, na hora que os diáconos serviam comida aos mendigos de São Pedro, entrou também naquela ágape com a multidão esfarrapada. Ficou com a impressão de viva e comovida fraternidade. Com a qual, voltou para Assis.” (Obra citada, pg. 132). O caminho penitencial tem aí também a sua investidura.

Ao continuar suas andanças reflexivas pelos arredores de Assis encontra certa vez numa situação estranha. Ele que foi líder em Assis agora conhece um lado deplorável de sua cidade que coloca os leprosos fora da proteção de qualquer lei. Nojentos e repulsivos os leprosos eram serem abomináveis. Para Francisco, foi fácil ser um pobre como os pobres, mas nunca passou pela sua cabeça ser um leproso. Mas um dia, numa cena de horror um leproso aparece a sua frente olhando para ele aterrorizado e carente. Para Francisco seria fácil jogar uma moeda e fugir. Mas fala o penitente que está nele: supera-se ao aproximar e abraçar e beijar aquele ser apodrecido pela doença. Dentro de Francisco o espanto e a transformação.  Deus estava ali. O Evangelho estava ali. O cristianismo estava ali. O abraço e o beijo tornam-se gestos sagrados de uma mudança. A amargura mudou para doçura. Penitência tem este jeito de abraçar o desprezível.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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