A MÍSTICA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 18

A MÍSTICA DA UNIÃO CÓSMICA – O Cântico das Criaturas

E porque Francisco conseguiu essa profunda reconciliação, é que ele comove e seduz toda a humanidade. O esplendor do humano e sua tragédia, sua ânsia de ascensão e seu enraizamento na terra, sua dimensão urânica (céu) e a sua dimensão telúrica (terra) encontram nele um intérprete privilegiado.

9. Altíssimo, onipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção.
Só a Ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De Te mencionar.

Esta primeira estrofe é o hino do silêncio diante do mistério inefável. O Altíssimo atrai todas as energias do louvor e da adoração. Só Ele é digno de todos os títulos. Por isso é o Bem Total, o Sumo Bem, Todo Bem.

Francisco despojou-se não só de seus bens, mas da vaidade pessoal, dessa terrível vaidade farisaica que torna as pessoas virtuosas (não confundir com santas), pequenos tiranos, senhores e deuses para si próprios e para os outros. Por isso, ele diz aqui que de Deus são os louvores, a glória, a honra e todo o bendizer. Estaríamos pensados a dizer que é o humano que louva e dá glória e honra a Deus. Então, não sou eu que louvo e honro. É Deus que louva e honra em mim e através de mim.

Por aí se entende por que São Francisco prescreve aos Irmãos na primeira Regra: “Peço na caridade, que é Deus, que todos os meus irmãos pregadores, oradores e trabalhadores, tanto clérigos como leigos de procurar humilhar-se em todas as coisas, de não gloriar-se e não alegrar-se no íntimo da alma e não exaltar-se exteriormente por causa das boas obras e palavras e também por nenhum bem que se faz, diz e opera neles o Senhor”.

Continua

Comentários