DE JUBILEU EM JUBILEUS – 8


 São oito séculos tendo sempre na vida Guias Espirituais como método. Enfim, já tivemos, e ainda temos, uma espiritualidade que vem da oração constante, afetiva e menos especulativa, livre e espontânea e aberta aos dons místicos. Talvez hoje tenhamos a preguiça encorajada pelos muitos subsídios, e uma mística equivocada porque perdeu a originalidade que vem do coração; tem-se a impressão que há um orgulho de ser uma pessoa espiritual e não a austeridade heroica da abnegação. Amor próprio pode sufocar o amor a Deus. Nas origens a oração, meditação e contemplação eram voltadas para a missão, evangelização e apostolado; hoje ela está voltada para as  postagens midiáticas. Precisamos salvaguardar a quietude da vida espiritual como uma fonte de nossas atividades. O Espirito de Oração e Devoção foram  nossos Mestres nas origens e nos seguram de Jubileu em Jubileus.

E não podemos deixar de falar da Contemplação na Ação! Temos uma mãe e mestra: Santa Clara de Assis, o expoente mais qualificado da prece contemplativa e da ação missionária a partir do claustro. Clara é o encontro da sensibilidade de Francisco com a sensibilidade feminina. O feminino está presente na história jubilar da Ordem e todas as suas ramificações como força e concentração, serenidade, luz e alegria, fidelidade litúrgica, prece contínua. O amor de Deus se fez muito claro em Clara e fez uma base sólida através da pobreza mais radical, da humildade, enfim o caminho florido de tantas virtudes. Com Clara de Assis, a Ordem aprendeu que contemplação é missão; que não existe o título de Abadessa quando se é mãe e irmã, pois uma superiora e um superior tem que viver e comportar-se como pai e mãe. Mesmo doente, Clara não quis enfermaria, mas foi ficar no dormitório, junto com as Irmãs. Renunciou a lugares especiais, e no refeitório não se fez servir, serviu. Lázaro Iriarte, OFMCap, dizia que Clara nos ensinou: “Quem quer governar os outros,   deve antes de tudo ser aquele ou aquela que sabe governar-se e a si mesmo(a)”. Clara sempre viu o encontro comum como algo essencial e necessário e reunia as Irmãs semanalmente, não para tratar problemas, mas tendo como finalidade o Encontro Fraterno.

Clara ensinou que os doentes são os privilegiados da comunidade e o serviço a eles é uma resposta à Pobreza. Quem está doente do corpo corre também o risco de se tornar doente do espírito, por isso deve ser uma pessoa muito cuidada pelo amor de irmãos e irmãs. Ensinou que a arte de ser amigo ou amiga é escutar demais a importância de alguém. Ela e Francisco renunciaram a certos apegos particulares e podiam assim se querer muito bem. Autenticamente cristãos, Clara e Francisco tiveram a coragem de ser Evangelho.

Clara é uma mulher completamente ligada à sua terra natal. É a santa de Assis, uma expressão da cidade. Francisco esteve em todos os lugares, Clara não precisou sair dali para ganhar o mundo. Coragem, força e fidelidade atraem para além dos muros do mosteiro. Assis precisou de Clara na presença e na prece. Ela nunca se sentiu à parte da Ordem, mas sempre na mesma caminhada única da Fraternidade. Ela não nasce apenas espiritualmente de Francisco, mas o influenciou muito. Quem armou o Presépio, escreveu o “Cântico das  Criaturas” e teve uma Cruz marcada no corpo, aprendeu muito com uma mulher. Se tirar a mulher do caminho espiritual, a fonte seca.

 FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

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Imagem: Piero Casentini

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