Francisco de Assis e a Encarnação – De Greccio para todos os cantos do mundo – 8

 

 A comparação entre Belém e o altar eucarístico ocorre em vários autores do século XII, como por exemplo, Honório de Autun, Hugo São Vitor, São Bernardo de Claraval, Zacarias Crisopolitano, Guarniero de Rochefert, Guerrico d’Igny. Num sermão de Natal, Guerrico diz: “Irmãos, também vocês encontrarão hoje um Menino envolto em faixas e colocado no Presépio do Altar”. E Pedro de Blois, quase contemporâneo de São Francisco, usa praticamente as mesmas palavras: “Irmãos, mesmo que vocês não sejam pastores, assim mesmo verão hoje o nosso pequenino, que muitos reis e muitos profetas quiseram ver; vão vê-Lo colocado no Presépio do Altar, não numa aparência de glória, mas envolto em faixas”. A ideia eucarística do Presépio é comum a escritores dos séculos XII e XIII e foi retomada por artistas, miniaturistas, escultores e pintores. A originalidade de São Francisco de Assis está em conseguir traduzir em formas plásticas, simples e realistas, ao alcance de todos, a atualização do mistério do nascimento histórico no mistério eucarístico.

Francisco foi original na representação da Natividade do Menino Deus? Existiam já algumas representações dramatizadas para a liturgia do nascimento do Senhor; mas que destacam também a adoração dos pastores e dos Reis Magos, mas também colocavam em evidência a matança dos Inocentes pelo rei Herodes. Isto já acontecia no século X; mas a representação era exclusiva para atores clérigos sem a participação de mulheres. Eram celebrações luxuosas e extremamente solenizadas. Em 1161, Gerhoh de Reichersberg, investiu contra este costume argumentando que era uma dessacralização do texto evangélico. O monge teve apoio da eclesiologia da época pois não podia se aceitar que homens representassem figura de mulheres.

Diz Cesarius Van Hulst no Dicionário Franciscano: “A celebração natalina de Greccio como nos é relatada pelo testemunho histórico mais antigo e mais consistente, isto é, o de Celano, parece não ter nada ou quase nada, de ligação com as representações sacras acima equivocadas. Sem levar em conta o fato que, na Itália, salvo em algumas cidades do norte, estas representações sacras eram quase que desconhecidas; a celebração de Greccio se distancia enormemente de tais representações pela simplicidade de seu estilo, pobreza dos meios e pureza da fé. Assim, ela não pode ser comparada de modo algum a esses dramas litúrgicos exagerados, pomposos, enfáticos, e algumas vezes, caricaturais.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa:  Presépio de Frei Pedro Pinheiro, em Bragança Paulista, 2008 

Comentários