Francisco de Assis e a Encarnação – De Greccio para todos os cantos do mundo – 7

 


Nas Admoestações, diz Francisco: “Eis que diariamente ele se humilha como quando veio do trone real ao útero da Virgem, diariamente ele vem a nós em aparência humilde; diariamente ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote. E assim como ele se manifestou aos santos apóstolos na verdadeira carne, do mesmo modo ele se manifesta a nós no pão sagrado. E assim como eles com a visão de seu corpo só viam a carne dele, mas contemplando-o com olhos espirituais criam que ele é Deus, do mesmo modo também nós, vendo o pão e o vinho com os olhos do corpo, vejamos e criamos firmemente que é vivo e verdadeiro o seu santíssimo corpo e sangue. E, desta maneira, o Senhor está sempre com seus fiéis, como ele mesmo diz: Eis que estou convosco até o fim dos tempos” (Adm 1, 16-22).

Essa aproximação tão evidente que Francisco faz do Presépio com a Eucaristia vem dos relatos de Greccio, desde a visão que João Velita tem, quando Menino Deus aparece para ele dormindo e despertando de um sono profundo e acordado por Francisco como a ressurreição acontecendo naquele bosque e se atualizando em todos os altares em cada celebração. O Presépio e a Eucaristia acendem a chama da presença. Não qualquer presença, mas aquela que aviva o mais familiar. José e Maria representam o mais profundo da maternidade e paternidade, o boi e o burro o jeito do mundo animal ativar afetos. A criança eterna provoca o melhor do humano e o melhor de Deus; na Eucaristia a manjedoura é o altar, berço da mais expressiva celebração; o pão e o vinho originam a ancestralidade do alimento.

O Presépio é uma liturgia perene e a liturgia iniciada por Francisco de Assis aproxima Greccio e Belém. É encontro, aproximação, oferenda, louvor e beleza. Belém significa a casa do pão. Greccio encena e visualiza o pão vivo descido do céu, o pão da vida.  O Dicionário Franciscano lembra, a partir do evangelho de Lucas: “Posto no Presépio, isto é, o corpo de Cristo sobre o altar”. Aelred de Rivaux (abade cisterciense do século XII) escreve:” O Presépio em Belém, o altar na Igreja. Não temos nenhum sinal tão grande e evidente do nascimento de Cristo, como o corpo e sangue d’Ele, que consumimos todos no santo altar. E aquele que uma vez nasceu da Virgem, O vemos todos os dias imolado por nós. Por isso, irmãos, corramos depressa ao Presépio do Senhor”.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa:  Presépio de Frei Pedro Pinheiro, em Bragança Paulista, 2008 

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