Francisco de Assis e a Encarnação – De Greccio para todos os cantos do mundo - 1

 


Quando lemos os textos das Fontes Franciscanas temos alguns detalhes de como São Francisco de Assis amava o Natal: “Celebrava com inefável alegria, mais do que as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, afirmando que é a festa das festas” (2Cel 199,1). ”(...)No terceiro ano antes de sua morte, na aldeia de Greccio, que ele decidiu celebrar a memória do nascimento do Menino Jesus com a maior solenidade que pudesse para reavivar a devoção” (LM 10,7). “Pois o bem-aventurado Francisco tinha mais reverência pelo Natal que por nenhuma outra solenidade do Senhor, porque, embora em outras solenidades o Senhor tenha operado a nossa salvação, todavia por ter nascido para nós, como dizia o bem-aventurado Francisco, era necessário que fôssemos salvos. Por esta razão, queria que nesse dia todo cristão exultasse no Senhor, e, por amor daquele que se entregou a si mesmo, toda pessoa fosse generosa com alegria não somente para com os pobres, mas também com os animais e as aves” (CA 14.7).

“Da mesma forma, que todos os governantes das cidades e os senhores dos castelos e das vilas sejam obrigados, a cada ano, no dia do Natal do Senhor, impor que os homens espalhem trigo e outros grãos pelas estradas, fora das cidades e dos castelos, para que as irmãs cotovias e também as outras aves tenham o que comer, nesse dia tão solene; e que, por respeito ao Filho de Deus, a quem nessa noite a beatíssima Virgem Maria reclinou num presépio entre o boi e o asno, quem tiver um boi ou um asno, seja obrigado, nessa noite, a provê-los abundantemente com a melhor forragem. Do mesmo modo, neste dia, que todos os pobres devam ser saciados pelos ricos com bons alimentos” (2EP 114,1). “Se desejas que celebremos em Greccio a presente festividade do Senhor, apressa-te e prepara diligentemente as coisas que te digo” ( 1Cel 84,6).

“Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com astro cintilante iluminou todos os dias e os anos”( 1Cel 85,2). “Prega em seguida ao povo presente e profere coisas melífluas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre Belém, a pequena cidade.”( 1Cel 86,3). “Finalmente, o lugar do presépio foi consagrado como templo do Senhor” ( 1Cel 87, 4). “Por isso, uma vez, ao aproximar-se a festa do Natal do Senhor e querendo representar da maneira mais verossímil possível a humildade e a pobreza do Menino Salvador que nasceu em Belém, o homem de Deus preveniu um homem devoto e nobre, de nome João, na vila de Greccio. Este lhe preparou o boi e o asno com o presépio em vista das futuras alegrias da festa” (Jul 53,4)

 “Tendo acorrido muita gente de todas as partes, a noite foi passada em meio a uma insólita alegria, toda iluminada por velas e fachos, e as solenidades da nova Belém foram celebradas com um novo rito. Os irmãos cantavam os devidos louvores do Senhor, e todos os que estavam presentes aplaudiam com novos cantos de alegria. O bem-aventurado Francisco estava diante do presépio; repito, estava ali entre suspiros de imensa alegria; estava ali inundado de indizível suavidade” (Jul 54, 3-5).

E nas Regras temos: “E jejuem desde a festa de Todos os Santos até o Natal do Senhor” (RB III,6 e RnB III,11).

Estes são alguns textos das Fontes Franciscanas bem a jeito de Francisco que fazia sua imersão na vida transformando palavras em carne de sua carne, numa infusão de vida espiritual paisageando o natural. Para São Francisco de Assis, palavra é caminho, vila, estrada e bosque, porque abre compreensões. A leitura que ele faz da vida é colocar a vida diante dos olhos acesos de percepções. E quando se trata da Palavra Sagrada, Francisco é receptividade, criatividade, mutabilidade, chão lunar que deixa filtrar a potência do sol. Em Francisco a existência permanece constantemente acesa pela luminosidade do Evangelho, e junto com Clara de Assis, ele se faz reflexo espelhado da Luz Divina. Francisco e Clara são esposo e esposa  do logos ,e, com simplicidade intuitiva unem a comunicação divina com a compreensão humana. A Palavra não é apenas lida ou ouvida, mas fala de uma conversa caseira com o humano. Luz ofertada, luz recebida. É muito bom aprender adequar a Palavra no quadro do cotidiano; faz bem para o ser, para o intelecto, para o espiritual e para o corporal. Presépio franciscano tem isso: a natureza humana e divina encontra lugar em tudo que se apresenta.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO 

Imagem ilustrativa: Afresco do Presépio, no Santuário de Greccio, atribuído ao mestre de Narni (Giovanni di Giovannello di Paulello, pintor de Narni)m datado entre 1375 e 1410.

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