A RIQUEZA DA ICONOGRAFIA FRANCISCANA - 3




A CIDADE DE ASSIS

                                “Nesta encosta do Subásio
                                  Onde a montanha é menos íngreme
                                  Nasce ao mundo um sol
                                   (...)
                                  Quem quiser falar deste lugar
                                  Que não diga mais Assis- seria dizer
                                   Muito pouco- mas Oriente...”
                                   (Aligheri Dante, A Divina Comédia, O Paraíso, XI,28-66)


Há cidades que são mitos, referências, centros do mundo, ícones de civilizações. Algumas atravessam milhares de anos, como Jerusalém, Troia, Atenas, Roma, por exemplo. Ouso colocar a cidade de Assis como um   grande ícone Franciscano e Clariano. Assis já não é mais um lugar situado no mapa, mas está dentro dos contornos do coração de todos que passam por lá como um lugar a ser visto e acabam sendo visitados pelo espírito do lugar. Entra-se em Assis, e Assis entra em sua vida para sempre. Há lugares que são esquecidos, mas Assis é sempre uma doce e perene lembrança.

Francisco e Clara são uma cidade e o seu nome, e a cidade tornou-se Francisco e Clara de Assis, numa comunhão de energia, espaço, fé, história, legenda, espiritualidade, mística e arte; um ponto de partida geográfico para a conquista de um lugar existencial. Assis tornou-se a marca, a pegada inicial de uma caminhada impregnada no chão da Úmbria e daí para o mundo; do preciso mundo pessoal para o ilimitado universal.

Todo lugar pressente, evidencia e revela um Mistério. O coração da Itália pulsa no peito verde da Úmbria, condecorado de belezas naturais, com sua terra fértil e paisagem deslumbrante. Os Apeninos descem leves como degraus da terra para o céu e vice-versa. Nascer ali é ter jeito contemplativo e escalonar encontros entre imanência e transcendência. Francisco andou por estes contornos, Clara quedou-se contemplativa em tamanha beleza.  O Monte Subásio, com 424 metros de altitude, segura na sua encosta a cidade de Assis, que dali observa o vale como uma atenta vigia. Ver e orientar-se. Assis é um caminho orientado pelo coração com sensibilidade, afeto e fé.

A história diz que Assis é de 865 a.C., fundada por Dardano, filho de Electra. Dardano queria guerrear contra seu irmão Jásio que estava acampado no Subásio. O lado mitológico da narrativa histórica diz que o Monte Subásio era protegido por deuses, Júpiter e Minerva. Na luta entre os dois, quem vencesse a batalha, deveria por voto, construir um templo dedicado a Minerva. Este templo foi construído e existe até hoje na praça central de Assis. Mito e sonho, lutas, conquistas e realizações, sempre se transformam, de um certo modo, em lugares sagrados. Do mundo antigo ao mundo medieval Assis e seus heróis e Santos são legendas que vão do real ao imaginário popular.

Outros dizem que foi Ásio, de Troia, que fundou Assis, por isso o nome do Monte Subásio deriva de Sub-Ásio, uma cidade sob a custódia de seu líder. Tribos de umbros e etruscos moraram na região; as muralhas e escavações têm sinais arqueológicos desta história. No século III, os romanos a dominaram após a batalha de Sentino (295 a.C). Sob a governança do Cônsul Quirinus Fábio, Assis se torna uma comune romana, e como todas as civitas romana têm templo, foro, termas e teatro. Foi evangelizada por São Rufino durante o reinado do imperador Diocleciano. São Rufino foi morto em martírio realizado por afogamento no Rio Chiaschio e seu corpo guardado em Assis, cuja catedral, é a ele dedicada. Uma cidade com sangue de guerreiros, sangue de mártir, sangue de lutas, sangue cavalheiresco, sangue de leprosos e um ideal correndo nas veias fontais de sua liderança.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO


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