REFLEXÕES SOBRE A DIMENSÃO POLÍTICA DO FRANCISCANISMO - 3


Fé e realidade não se separam


O Evangelho transformou o mundo a partir do tempo de Jesus e a pergunta é: como vamos fazer isto a partir deste tempo em que estamos vivendo? Estar numa Ordem é ajudar a ordem mais espiritual e social do mundo. Olhar o mundo e perceber que estamos numa sociedade que produz desnível de classes, produz o pobre e produz esta insatisfação toda que aí está. No tempo de Francisco de Assis não era diferente. Ele não foi em direção à riqueza, mas sim onde estava a Fraternidade.

A vivência fraterna existe para alimentar participação, cuidado e justiça. Isto não é apenas uma fundamentação sócio-política, mas um ideal cristão que mantém o projeto de Jesus, a transformação do mundo em Reino de Deus. Fraternidade não é apenas querer uma sociedade rica ou pobre, mas uma sociedade justa e solidária. Sem isso, do que adiantaria uma fé cristã professada e proclamada entre desmaios do espírito me dizendo: “aqui TL não entra!”. Claro que não  quero entrar no transe alienado que não vê desmaios de fome. Fé é encontro com a realidade colocando nela o sonho sagrado de Deus. Fé e realidade não se separam.

Nós queremos modernizar o nosso modo de crer e não vemos que a sociedade moderna separa riqueza de um lado e pobreza do outro. Diz que o marginalizado, o excluído, o fora das possibilidades é um ignorante. Francisco de Assis também foi considerado um ignorante porque se vestiu de pobre e marginalizado e foi lá cuidar dos excluídos, porque a estrutura feudal de seu tempo também gerou miséria. Francisco de Assis não era um ignorante, mas diferente. Sabia muito bem quem estava produzindo desigualdade e não quis ser igual aos iguais privilegiados.

A experiência de Francisco de Assis é muito rica e não se esgota num único aspecto; se bem que, talvez, muita gente gostaria que ele se reduzisse a viver atrás do balcão da loja de seu pai Pedro Bernardone ou então fosse viver a intensa e boa experiência de vida monástica. Francisco de Assis imerge na realidade da Úmbria e o seu modo de viver o divino, o religioso, o teologal é uma dimensão que atravessa tudo. Se ele nos legou uma espiritualidade e até uma teologia franciscana libertadora é por que experimentou, como diz Congar, “a gente só tem a teologia da própria prática”.

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO

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