FRANCISCO DE ASSIS E A ENCARNAÇÃO – DE GRECCIO PARA TODOS OS CANTOS DO MUNDO - 6

 

Para Francisco de Assis, todo lugar é lugar de uma grande revelação. O Presépio é uma pregação por si só. É achar o lugar certo e ir para muitos lugares: igrejas, conventos, casas particulares e logradouros públicos. O Evangelho é vivo no seu modo vivaz de mostrar como Deus veio habitar entre nós. O biógrafo Tomas de Celano, que faz a melhor narrativa do modo como Francisco preparou o Presépio, certamente esteve presente naquele momento em Greccio. Ele descreve de um modo preciso, vivaz, terno e eloquente. Arrumar uma gruta em meio à floresta e transformar o local no estábulo de Belém foi uma missa de Natal por demais expressiva. O Papa autorizou a novidade celebrativa: “E para que isto não pudesse ser tachado como novidade, tendo pedido e obtido a licença do sumo pontífice, mandou que fosse preparado o Presépio” (LM X,7). 

 No verbete do Dicionário Franciscano temos um detalhe interessante: “De fato, essa permissão especial do Papa era necessária, porque Inocêncio III, em 1207, numa carta ao arcebispo de Gnesa, na Polônia, havia proibido certos excessos do clero nas dramatizações litúrgicas de Natal. Havia uma circunstância especial na missa de Greccio, visto que ela seria celebrada numa gruta fora do convento, um pouco afastada do lugar onde moravam os frades; e só aí era permitido celebrar. A permissão pontifícia era também uma boa medida cautelar nos confrontos de eventuais contestações de direito da parte do clero local. Certamente não era próprio de Francisco o embaraçar-se em obstáculos jurídicos. A ele só interessava pôr em prática a sua visão interior em forma dramatizada. O que Francisco queria ver era a pobreza máxima e a extrema humilhação do Filho de Deus nascido em Belém e, ao mesmo tempo, a ligação entre a vinda de Jesus no Presépio e a vinda sacramental no altar eucarístico. Esta é certamente a interpretação mais apropriada do Natal de Greccio, não ó seu duplo aspecto cênico-pedagógico, espontâneo e tradicional, criativo e surpreendente, simbolizando no seu valor histórico (nascimento) e sacramental(eucaristia) com a manjedoura feita altar” (Van Hulst, Cesário, Dicionário Franciscano, Natal, natividade, Greccio, Presépio – Verbete,  Vozes-Cefepal, Petrópolis, 1993, p. 468-475)

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa:  Gerard Seghers, "Santa Clara e São Francisco em adoração diante do Menino Jesus (1591–1651), Wikipédia (domínio público) 

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