Francisco de Assis e a Encarnação – De Greccio para todos os cantos do mundo – 4


 No presépio a Vida se dá como uma bela oferenda: “Tal é o encargo que recebi de Meu Pai: dar a minha vida” (Jo 10,18). “É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida” (Jo 10,17). “Ninguém tira a minha vida, mas eu a dou por vontade própria” (Jo 10,18). Francisco de Assis começou diante da Cruz de São Damião e vai terminar no presépio de Greccio e nas marcas do Alverne a essência de seu Carisma. Presépio, Eucaristia e Cruz são seus olhos fixos na vida daquele que transplantou para nós a Vida do Pai Celeste. É como diz Santo Agostinho: “A vinda do Filho em nossa carne é um colírio que consegue tornar perceptível aos nossos olhos o que nossos olhos nunca podiam ver”. Francisco de Assis nos ajudou a ver. Todo presépio é um colírio para os nossos olhos. Definitivamente a natureza humana encontra a sua natureza divina. O presépio une toda a humanidade, toda a realidade, toda verdade; ele nos toca e quando o tocamos tudo é divino, tudo é maravilhoso. No presépio todos somos filhos e filhas da mesma família sagrada; é o grande arranjo da filiação. Ele vem experimentar a nossa vida, o nosso nascimento, crescimento, sofrimentos, atividades. O Filho absorveu a nossa vida e nos irmana. Para Francisco o presépio tem jeito de fraternidade porque ser irmãos, irmãs, filhos e filhas é inseparável do ser fraterno. O Amor é impensável sem convivência. Por isso, o presépio é também um grande ensinamento e aprendizado fraterno. O amor mútuo quando se ajunta faz todo dia o amor encarnar-se. Por isso, cada ano podemos guardar o presépio nas caixas, mas ele não se desmonta na alma.

Nas Fontes Franciscanas temos Tomás de Celano narrando: “Celebrava com inefável alegria, mais que as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, afirmando que é a festa das festas, em que Deus, tornando-se criança pequenina, dependeu de peitos humanos” (1Cel 199). Jesus esteve no colo de sua Mãe e como toda criança mamou com muita receptividade naquela que era a mais pura receptividade da Palavra. Maria é fonte de fé e fidelidade, de leveza interior, de abertura ao Espírito do Senhor. No lar de Nazaré e desde Belém ela é pobre, humilde, pacífica, silenciosa e o encanto da mais expressiva pureza de ser mãe. Ela se esconde e deixa transparecer a presença de Deus. Quando contemplamos Maria, no presépio, temos que nos livrar de tudo o que obstrui em nós a presença da Palavra criadora: autossuficiência, orgulho, arrogância, violência, preconceito, desassossego, intolerância, barulho... Nada disso está em Maria, nela não há nenhuma autoafirmação egoística. 

É isto que a faz Imaculada, isto é, livre de toda mancha de egoísmo que pudesse obscurecer a luz de Deus no seu ser. Repleta de Amor ela pode receber e conceber a Palavra para o mundo. Ofereceu seu ventre para, na mais completa hospitalidade e humildade, o Deus Encarnado fosse fecundado ali. Maria preparou seu ser para que Deus, infinitamente despojado, habitasse numa Mulher infinitamente despojada. Jesus em seu colo experimenta o que diz Santo Agostinho: “Ela amamentava com leite o nosso Pão”. Por isso, São Francisco, na Saudação à Mãe de Deus, diz: “Ave, palácio do Senhor! Ave, tabernáculo do Senhor! Ave, casa do Senhor! Ave, vestimenta do Senhor! Ave, serva do Senhor!”

CONTINUA

FREI VITORIO MAZZUCO FILHO

Imagem ilustrativa: A Natividade na Basílica de São Francisco de Assis, Giotto  (1266–1337), Wikipédia (domínio público


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